CAP. 143 – O ESCÂNDALO SACOMANI

A perda do título brasileiro de 1978, sobretudo por ter acontecido diante de uma equipe do Interior, abalou demais os alicerces palmeirenses. Mas nada que se pudesse comparar à mais grave crise política vivida pelo clube durante aquele ano, e que culminou com o impeachment do presidente da diretoria, Jordão Bruno Sacomani.

Empresário de sucesso no ramo da construção civil, ele fora empossado no cargo no início de 1977 em substituição a Paschoal Walter Byron Giuliano, que montara a inesquecível Segunda Academia. Além da gigantesca responsabilidade de manter o time entre os maiores vencedores do País, Sacomani enfrentava também sérios problemas financeiros, pois sua empresa – a Studium Construções e Vendas – atravessava momentos dificílimos e corria o sério risco de até mesmo fechar as portas.

Como todo empreendedor, o presidente do Verdão acreditava que crises se venciam com mais trabalho e investimentos. Por isso, resolveu levantar um edifício com 250 apartamentos na cidade de Praia Grande, no litoral paulista, mesmo sem ter o capital suficiente. Assim, pediu um empréstimo à Caixa Econômica Estadual por meio do deputado Wadih Helu, então seu amigo pessoal e também ex-presidente do Corinthians. O valor do empréstimo solicitado, Cr$ 12.766.892,00 (doze milhões, setecentos e sessenta e seis mil, oitocentos e noventa e dois cruzeiros), equivaleria hoje a pouco mais de R$ 100 mil (cem mil reais), mas naquela época, acredite, era suficiente para se construir um grande empreendimento.

Jordão Bruno Sacomani, em foto de 1988

Sacomani tinha absoluta certeza de que conseguiria o empréstimo, tanto que em razão disso cometeu o maior erro de sua vida: a fim de adiantar as obras, e sem autorização do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) ou do CD (Conselho Deliberativo) – ou seja: sem que ninguém soubesse –, foi aos cofres do clube e retirou quase que a totalidade do valor solicitado ao banco paulista – o que faltou ele pediu emprestado aos dois principais jogadores do time na época, o goleiro Leão (de quem fora padrinho de casamento) e o meia Ademir da Guia (a quem apresentara aquela que viria a ser a primeira esposa do Divino, a chilena Ximena Guia).

O problema é que a Nossa Caixa, como era mais conhecida a instituição financeira paulista, negou o empréstimo alegando não ter garantias suficientes de que o valor lhe seria devolvido. E aí o presidente do Palmeiras ficou em uma situação insolúvel: não tinha o dinheiro para continuar as obras, nem para devolver àqueles que já haviam adquirido unidades do edifício, nem para Leão e Ademir da Guia e, pior do que tudo isso, não tinha o dinheiro para recolocar nos cofres do clube antes que alguém soubesse do desfalque que dera.

Quando tudo veio à tona, nosso Verdão se tornou um caso de Polícia, amplamente divulgado em todos os jornais, rádios e emissoras de TV. Reunidos, os membros do CD resolveram, em julho de 1978, exonerar Jordão Bruno Sacomani do cargo de presidente da diretoria (em seu lugar assumiu seu vice, Brício Pompeu de Toledo) e o banir do quadro social, do qual fazia parte havia mais de 40 anos. Já então na condição de ex-presidente, ele chegou a ser preso (em 07.09.1980), mas no camburão teve um problema cardíaco e foi levado direto a um hospital, onde ficou internado por três dias. Na saída, seus advogados já haviam conseguido o relaxamento da prisão.

O que pouca gente sabe é que em 1982, quatro anos após desviar o dinheiro do Palmeiras para fins pessoais, ele ressarciu o clube com um dos poucos bens que lhe restara, um terreno de mais de 60 mil² às margens da Represa Billings, em São Bernardo do Campo/SP. Mesmo assim, jamais voltou a frequentar as dependências sociais do Parque Antártica ou mesmo a assistir a uma partida do Verdão no Palestra Itália.

Esquecido pela mídia, pela torcida e pelos amigos que fez no Palmeiras, Jordão Bruno Sacomani faleceu em 8 de maio de 2004, aos 89 anos.

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4 Responses to CAP. 143 – O ESCÂNDALO SACOMANI

  1. Marcio a cada dia que passa você nos surpreende com os fatos históricos e suas analises.
    Mas…
    Neste caso Sacomani, “EU NÃO ESTOU ENTENDENDO NADA” !
    Por que na época a Imprensa noticiou que o valor DESVIADO era ASTRONÔMICO, simplesmente era o valor integral da venda do Leivinha e Luis Pereira pro Atlético de Madri.
    Esse valor era tão absurdamente DESCOMUNAL, que era igual ao titulo do seriado famoso que passava na Tv com o ator Lee Maijors, que era “CYBORG O HOMEM DE 6 MILHÕES DE DOLÁRES” !
    O titulo do filme era este porque 6 milhões de doláres pra época era um valor ESTRATOSFÉRICO !
    … E AGORA VOCÊ FALA QUE ELE RESSARCIU O PALMEIRAS COM UM TERRENO NA BEIRA DE UMA REPRESA ……..?????
    Sinceramente, respeitosamente NÃO ESTOU ENTENDENDO NADA !

    • Márcio Trevisan

      Jair: não podemos brigar com a história.

      Os fatos são estes que eu escrevi. Se o valor desviado era ou não igual aos das vendas de Luís Pereira e Leivinha (se bem que, naquela época, os valores eram muito inferiores aos de hoje em dia) ou se o imóvel oferecido em pagamento, quatro anos depois, quitava ou não a dívida de Sacomani com o Palmeiras, nunca saberemos co exatidão, pois tais fatos se deram há 35, 40 anos e, desde então, a inflação pode ter corroído tudo.

      Se você quiser pesquisar a respeito do tema em jornais da época, verá que não inventei nada – apenas relatei os fatos.

      Abs.

  2. Antonio Manara

    Eu lembro desse escândalo no nosso Palmeiras, porém se fizermos um levantamento das finances do clube, veremos que continuam desfalcando o Verdão

    • Márcio Trevisan

      Manara: não acredito nisso, não.

      E sabe por quê? Porque se isso continuasse a acontecer, com certeza já teria vindo à tona.

      O que pode ter acontecido, ou até mesmo seguir acontecendo, é má administração.

      Abs.

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