Um dos mais antigos ditados populares diz que, muitas vezes, o feitiço se volta contra o próprio feiticeiro. Em 1944, ao que tudo indica, isso aconteceu. É bem verdade que não há provas inquestionáveis de que o São Paulo, no caso o bruxo em questão, tenha incorporado de fato tal personagem, mas que desde sempre sua força nos bastidores do futebol era reconhecidamente forte, isso ninguém questiona.
Como lembramos no capítulo passado, o chamado Trio de Ferro lutava arduamente pelo título paulista de 1944, com mais chances, contudo, para São Paulo e Palmeiras, que fizeram um emocionante clássico no primeiro turno daquele Paulistão – empate por 3 a 3. Assim, rodada a rodada, os dois times seguiram brigando pela ponta da tabela, e o jogo do returno entre ambos poderia, se não definir, pelo menos apontar o provável campeão paulista daquele ano.
Antes, porém, de falarmos sobre o clássico, vale o registro de um fato que, por sorte, não se transformou na maior tragédia extracampo da história palmeirense. No dia 13 de agosto, o Verdão vencia o Comercial da Capital por 2 a 0 quando, no início do segundo tempo, as arquibancadas de madeira situadas atrás do gol de entrada da Avenida Francisco Matarazzo não suportaram o peso da superlotação e ruíram. Por sorte, as tábuas desabaram simultaneamente, fazendo com que os torcedores caíssem sentados sobre as madeiras quando elas atingiram o solo. Este detalhe amenizou o acidente, no qual apenas quatro palmeirenses se feriram e, ainda assim, sem gravidade. A partida pôde ser reiniciada e, ao final, o Palmeiras goleou por 5 a 1.
Passado o susto, o time seguiu sua vida no Paulistão. Como já tivemos a oportunidade de dizer, naquela época a contagem era feita por pontos perdidos – se o time ganhasse, não “somava” nenhum ponto, se empatasse, “ganhava” um e, se perdesse, dois. Assim é que, faltando apenas três rodadas para o fim do torneio, o Verdão aparecia na ponta, com oito pontos perdidos, vindo logo atrás o São Paulo, com nove. Esta pequena diferença fez aumentar ainda mais o clima de expectativa para o encontro marcado para 17 de setembro.
Ocorre, porém, que no meio da semana, o recém-criado Tribunal de Penas da Federação Paulista de Futebol resolveu, surpreendentemente, suspender o médio Dacunto por um jogo, justamente o decisivo – e contra o São Paulo. A explicação: na partida anterior (goleada de 6 a3 sobre o Juventus, em 10 de setembro), o jogador palmeirense teria sido advertido pelo árbitro José Alexandrino. Só que ninguém viu tal advertência, nem mesmo o médio do Palmeiras. Detalhe: naquele campeonato, Dacunto se transformara em importantíssima peça no esquema tático palmeirense, e sua ausência no clássico que poderia decidir o Paulistão se tornara uma ótima para o Tricolor.
Daí as suspeitas de que os dirigentes são-paulinos tivessem “trabalhado” nos bastidores e feito com que o Verdão ficasse sem um de seus mais importantes atletas. Como não havia, naquela época, chance de defesa para os jogadores, o técnico Bianco Spártaco Gambini não teve alternativa senão improvisar: recuou um meia ofensivo para atuar na proteção à zaga. O nome do “sacrificado”? Waldemar Fiúme.
Como dissemos acima, às vezes o feitiço se vira contra o feiticeiro. E você entenderá por que em nossos próximo encontro. Até lá!
ATENÇÃO: ESTA É UMA OBRA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL, SENDO PROIBIDA SUA DIVULGAÇÃO TOTAL OU MESMO PARCIAL SEM A PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO AUTOR. OS INFRATORES SERÃO RESPONSABILIZADOS CRIMINALMENTE.
Para ler os capítulos anteriores, clique aqui.
05/06/2016 at 8:31
Bom dia Márcio.
Você já pensou em publicar um livro com os capítulos da seção “Nossa História”?
Por favor, avise se o fizer.
Eu, particularmente, gosto demais de ler sobre os episódios da História do Palmeiras que você publica aqui.
Um abraço.
08/06/2016 at 15:30
Olá, Maggio.
A ideia existe, sim, mas não é muito simples de ser realizada. Motivo: o Palmeiras é o clube mais complicado do mundo para se trabalhar.
No caso, é certo que eles exigiriam ou um pagamento de royalties ou, então, um grande número de exemplares de forma gratuita.
Mas o mais provável é que tentassem barrar na Justiça o projeto, pois como eu sempre digo a história que eu escrevo é a verdadeira, e não a oficial. Talvez não conseguisse impedir a ação, mas com certeza encheriam o saco.
Tais situações afastam as editoras, que acabam não querendo comprar a briga. Mas, quem sabe um dia?
Agradeço muito o seu interesse e os seus elogios.
Abração.