PELLICCIARI: DA VÁRZEA PARA A NOSSA HISTÓRIA

Centroavante que formou dupla com Heitor marcou época nos anos 30 e 40 com gols e títulos inesquecíveis.

Américo Bertolini foi um médio de ótima qualidade dentre tantos outros médios que vestiram a camisa do Palestra Itália nos anos 20. Mas sua participação na história alviverde extrapola os limites do gramado: por ter estado no lugar certo e na hora certa, ele acabou descobrindo um dos maiores craques de toda a nossa história.

Tudo aconteceu em 1930. Num raro Domingo de folga, estava o já aposentado Bertolini acompanhando um jogo de várzea na cidade de Jundiaí/SP quando um garoto lhe chamou a atenção por dois motivos distintos: era precocemente calvo (e para esconder a calvície utilizava-se sempre de um gorrinho) e, apesar de gestos e passadas lentas, mostrava uma qualidade invejável, sobretudo na hora do chute a gol.

Bertolini não pensou duas vezes: assim que a partida amadora terminou, dirigiu-se ao menino e lhe fez duas perguntas. A primeira é se ele era palestrino, e a segunda se gostaria de jogar no Palestra Itália. O duplo “sim” dito pelo garoto (conseguido, porém, somente após muita conversa) o transformou em nosso inesquecível craque Romeu Pellicciari.

Nascido em uma família de imigrantes italianos em 1911, Romeu se caracterizava pela impetuosidade com que rompia as zagas adversárias. E foi desta forma que ele desembarcou no Parque Antártica, no meio do Campeonato Paulista de 1930. Na estreia, uma prova de fogo: ninguém menos do que o Corinthians/SP e toda a rivalidade que o derby então já apresentava. Mas, para o menino goleador, não havia muita diferença entre um grande time e uma equipe amadora da sua então muito pequena Jundiaí/SP. Tanto que foi dele um dos gols na vitória por 4 a 0 sobre os alvinegros, na inesquecível tarde de 24 de agosto daquele ano.

Romeu era um talento, sem dúvida, mas um talento ainda bruto, e tal qual um diamante precisou ser lapidado. Para isso, contou com a presença de Heitor, com quem formou uma dupla de ataque inesquecível. Ouvindo os conselhos do maior artilheiro da história do clube e que já se preparava para encerrar a carreira, Pellicciari foi aos poucos se transformando de um ótimo craque da várzea num excepcional jogador de um das maiores equipes de futebol do País.

Já no ano seguinte, outra figura teve vital importância na vida do novo ídolo palestrino: o técnico argentino Humberto Cabelli. Segundo o treinador, seu futebol refinado e inteligente deveria se sobrepor aos arroubos amadorísticos dos quais Romeu encontrava enormes dificuldades de se livrar.

Se em 1930 o Verdão ficou apenas em quarto lugar, no ano seguinte o time voltou a ser vice-campeão. Mas era pouco, muito pouco para uma equipe que tinha em seu comando de ataque Romeu Pellicciari. E ele, que acabou se tornando no coração da torcida o substituto do ponta-direita Ministrinho, negociado com o futebol italiano, foi o grande condutor do time na conquista do tricampeonato paulista (1932/1933/1934).

Pellicciari permaneceu no Verdão até 1935, quando foi negociado com o Fluminense/RJ. Já em fim de carreira, com 36 anos, voltou para o Verdão, clube que amava. Com a impressionante média de gols de 0.76 por partida disputada, é o 12º maior artilheiro da história palestrina/palmeirense.

Em resumo, Romeu Pellicciari foi um gênio da bola, dono de jogadas espetaculares e faro de gol ímpar. Somente por isso, e também pelo tricampeonato paulista que ajudou a ganhar, o jogador que carregava o apelido de “Bororó”, devido a seu estilo trombador, semelhante ao do atacante corintiano dos anos 20, já mereceria um lugar nesta galeria de heróis.

Mas houve um detalhe, um pequeno porém expressivo detalhe, que mais ainda o deixará para sempre ligado à história do Verdão: na maior goleada do time sobre o Corinthians/SP (8 a 0, em 05/11/33, aliás também a maior derrota do nosso rival em toda a sua história), ele fez nada menos do que quatro gols. Até hoje, nenhum jogador repetiu tal feito numa só partida entre ambos os clubes.

Após pôr um fim à sua vida como jogador, o atacante tornou-se dono de um famoso restaurante italiano em São Paulo/SP, no qual muitas vitórias e títulos palmeirenses foram comemorados.

Sua presença física nos deixou em 1971, mas seu futebol estará para sempre na nossa memória.

Ficha Técnica

Nome: Romeu Pellicciari
Posição: Centroavante
Data e Local de Nascimento – 26/03/1911, em Jundiaí/SP
Data e Local de Falecimento – 15/07/1971, em São Paulo/SP
Estreia: 24/08/1930 – Palestra Itália 4 x 0 Corinthians/SP
Despedida: 13/12/1942 – Taquaritinga/SP 0 x 6 Palmeiras
Jogos: 147
Gols: 112
Títulos Expressivos: Paulista/32, 33 e 34; Rio-São Paulo/33, Paulista/42

Obs.: Esta seção será atualizada em 06/08/20110.

One Response to PELLICCIARI: DA VÁRZEA PARA A NOSSA HISTÓRIA

  1. Fábio P. R.

    Imagina um ataque com Heitor e Romeu! MAMMA MIA!

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