CAP. 115: DÁ-LHE, PORCO!

Nem sempre a história, seja ela de um time ou de uma pessoa, pode ser contada de forma linear. Vez ou outra, é preciso que se pegue carona no túnel do tempo ou, como acontece neste capítulo de “Nossa História”, congelem-se os ponteiros do relógio para que se possa contar um fato paralelo à época retratada mas que, contraditoriamente, acaba por fazer parte de todos os demais períodos em diante. 

Refiro-me ao porco, animal que foi transformado em um dos símbolos do Palmeiras há muitos anos, que durante grande parte deles foi sinônimo de ofensa a todos nós e que, desde 1986, acabou por ser adotado pela torcida e até mesmo reconhecido oficialmente pela diretoria exatos 30 anos mais tarde. Antes, porém de lhes contar como o simpático bicho acabou tendo sua figura ligada ao Verdão, é meu dever lhes contar, também, uma das mais tristes passagens da história do nosso maior rival. 

Em 1969 o Corinthians estava inserto na fase do “faz-me rir”, forma como ficaram conhecidos alguns times muito fracos montados pelo alvinegro. Três jogadores daquele grupo, porém, fugiam à regra: o primeiro era o ponta-de-lança Roberto Rivellino, que obviamente dispensa apresentações, e os outros dois eram o lateral-direito Lidu e o ponta-esquerda Eduardo. Revelados por Londrina/PR e América/RJ, respectivamente, ambos começavam a escrever sua história no time do Corinthians e já arrancavam elogios de torcedores e jornalistas. 

Por volta das 20h00 de uma noite de domingo, 28 de abril, ambos deixaram o Parque São Jorge (aonde haviam chegado no fim da tarde vindos de Sorocaba/SP, após empatarem por 1 a 1 com o São Bento local) e se dirigiam a um restaurante. Poucos minutos depois, o Fusca dirigido por Lidu, habilitado havia apenas algumas semanas, chocou-se a uma pilastra na pista interna da Avenida Marginal Tietê, bem próximo à Ponte Presidente Jânio Quadros (à época chamada de Ponte da Vila Maria). Depois de algumas capotagens, os jovens Lidu, de apenas 22 anos, e Eduardo, que tinha somente 24 anos, estavam mortos. 

Nem é preciso descrever o quanto esta tragédia abalou o País, mas o fato é que acabou por interferir também na história do nosso clube. O regulamento do Campeonato Paulista daquele ano previa que após o seu início nenhum jogador poderia ser contratado pelas equipes – ou seja: o grupo teria de estar definido – e fechado – até a véspera da estreia de cada time.

Abalado pela perda de dois de seus titulares, o Corinthians solicitou à FPF que, diante de tão grave caso, abrisse uma exceção e lhe permitisse a aquisição de dois substitutos. A entidade concordou, mas salientou que os 13 demais clubes também deveriam dar o seu “ok”. Todos o fizeram, menos o Palmeiras, posição que impediu o rival de repor os atletas que perdera. A atitude foi considerada suja pela diretoria corintiana, que chegou a dizer que nossos dirigentes agiram como porcos. Mas, como na época a fase alviverde era muito melhor do que a alvinegra, rapidamente o assunto caiu no esquecimento.    

Pouco mais de nove anos depois, em 13 de outubro de 1977, enfim o Corinthians voltou a ser campeão, colocando fim a um jejum de quase 23 anos sem a conquista de um título expressivo. Foi o que bastou para que muitos torcedores da equipe de Itaquera se lembrassem do ocorrido e, como coincidentemente o Verdão iniciara a sua fase sem títulos naquele mesmo ano, começassem a entoar nos estádio, sempre que as equipes se encontravam, o grito de “Pooorcooo, Pooorcooo”. Não demorou para que as torcidas adversárias de todos os clubes brasileiros também o fizessem.                                                                               

Classificar o clube de forma tão pejorativa ofendia de forma ultrajante qualquer palmeirense, e não foram poucas as brigas que surgiram por causa desta ação. Em 1982, por exemplo, antes do início de um derby no Morumbi, alguém soltou um porquinho no gramado (até hoje não se sabe quem e nem como se permitiu a entrada do animal). Depois de driblar quase todo mundo, o bichinho foi pego pelo zagueiro Luís Pereira e entregue a um funcionário do estádio. Dois anos de depois, o diretor de Marketing do Verdão, João Roberto Gobbato, tentou adotar o porco como símbolo do Palmeiras, objetivando asism minar a provocação adversária – quase teve sua carteirinha de sócio rasgada. 

Foram outros 9 anos de intensas provocações, até que em 29/10/1986, após uma vitória sobre o Santos/SP, no Pacaembu, por 1 a 0, a torcida palmeirense começou a gritar o cântico que até hoje se ouve pelos campos do País: “E dá-lhe, porco, e dá-lhe, porco, olê, olê, olê”. Assim que adotou o simpático bicho como um de seus símbolos, nunca mais um palmeirense foi xingado de porco em canto nenhum deste planeta. 

Trinta anos mais tarde, mais especificamente em 2016, a diretoria então presidida por Paulo Nobre adotou oficialmente o porco como um dos símbolos do clube, ao lado do periquito.

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