CAP. 97 – VERDÃO NOTA 10

Quando se tem mais de um século de história para contar, é comum que alguns espaços sejam abertos no transcorrer das notícias. Em quase todos os anos, claro, acontecem vitórias memoráveis e derrotas lamentáveis, mas em alguns deles nem aquelas e nem estas acabam tendo uma importância maior no contexto geral. Assim, se por um lado não chegam a ser colocadas no porão de nossas memórias, por outro tampouco permanecem nítidas e reluzentes, como o mais belo cristal da nossa sala de estar. 

Ivan Bahiense

Digo isso para explicar ao amigo internauta que todas as semanas acessa esta seção os motivos que, às vezes, nos levam a saltar no tempo. Neste capítulo, tomarei esta posição pois, em 1955 – onde paramos em nosso último encontro, nenhuma conquista expressiva foi obtida do time principal de futebol do Palmeiras. Mas, a bem da verdade, pelo menos uma vitória foi pra lá de especial naquela temporada. Ela não garantiu nenhuma taça, não foi sobre nenhum grande rival e nem nos valeu uma vaga em alguma fase seguinte da competição – só que foi por 10 gols!  

Raríssimo no futebol, um placar que aponte 10 gols para uma mesma equipe é também muito pouco comum

Humberto Tozzi

na história do Palmeiras. Só para se ter uma ideia, em mais de 102 anos de vida foram apenas quatro as oportunidades em que o Verdão venceu marcando uma dezena de gols. E a mais recente delas aconteceu há mais de seis décadas! Dois detalhes, porém, devem ser realçados, pois tornam o feito ainda mais louvável: o jogo foi oficial e contra uma equipe que, na época, era a campeã do seu estado, o América/RJ. 

Rodrigues Tatu

Válido pela 7ª rodada do Torneio Rio-São Paulo daquele ano, o encontro foi disputado no Pacaembu em 07/05/1955 e começou muito equilibrado: até os 24 minutos do primeiro tempo, o placar apontava um justíssimo empate por 2 a 2. A partida, porém, foi eletrizante e, aos poucos, o Verdão deixou bem claro que, naquela tarde, estava em seus melhores dias. Comandado pelo impossível Humberto Tozzi, excepcional meia e artilheiro que brilhou em nosso time e também na Seleção Brasileira, o Palmeiras desandou a marcar gols e, no final do primeiro tempo, já goleava por 5 a 2.  

Ney

Se na etapa inicial marcara cinco, por que não repetir a dose nos 45 minutos finais? E foi exatamente isso o que fez a equipe comandada por Cláudio Cardoso, que chegou a estar vencendo por 8 a 2, permitiu mais um gol carioca mas, após marcar o nono gol, ouviu os inclementes gritos da galera, que pedia: “Mais um! Mais um!”. Pois coube a Tozzi – e nem poderia ser diferente, claro – a missão de atender à torcida e marcar mais uma vez.

Os palmeirenses, que compareceram em grande número ao aconchegante estádio paulistano, viveram uma inesquecível tarde de sábado. 

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