Quando se tem mais de um século de história para contar, é comum que alguns espaços sejam abertos no transcorrer das notícias. Em quase todos os anos, claro, acontecem vitórias memoráveis e derrotas lamentáveis, mas em alguns deles nem aquelas e nem estas acabam tendo uma importância maior no contexto geral. Assim, se por um lado não chegam a ser colocadas no porão de nossas memórias, por outro tampouco permanecem nítidas e reluzentes, como o mais belo cristal da nossa sala de estar.
Digo isso para explicar ao amigo internauta que todas as semanas acessa esta seção os motivos que, às vezes, nos levam a saltar no tempo. Neste capítulo, tomarei esta posição pois, em 1955 – onde paramos em nosso último encontro, nenhuma conquista expressiva foi obtida do time principal de futebol do Palmeiras. Mas, a bem da verdade, pelo menos uma vitória foi pra lá de especial naquela temporada. Ela não garantiu nenhuma taça, não foi sobre nenhum grande rival e nem nos valeu uma vaga em alguma fase seguinte da competição – só que foi por 10 gols!
Raríssimo no futebol, um placar que aponte 10 gols para uma mesma equipe é também muito pouco comum
na história do Palmeiras. Só para se ter uma ideia, em mais de 102 anos de vida foram apenas quatro as oportunidades em que o Verdão venceu marcando uma dezena de gols. E a mais recente delas aconteceu há mais de seis décadas! Dois detalhes, porém, devem ser realçados, pois tornam o feito ainda mais louvável: o jogo foi oficial e contra uma equipe que, na época, era a campeã do seu estado, o América/RJ.
Válido pela 7ª rodada do Torneio Rio-São Paulo daquele ano, o encontro foi disputado no Pacaembu em 07/05/1955 e começou muito equilibrado: até os 24 minutos do primeiro tempo, o placar apontava um justíssimo empate por 2 a 2. A partida, porém, foi eletrizante e, aos poucos, o Verdão deixou bem claro que, naquela tarde, estava em seus melhores dias. Comandado pelo impossível Humberto Tozzi, excepcional meia e artilheiro que brilhou em nosso time e também na Seleção Brasileira, o Palmeiras desandou a marcar gols e, no final do primeiro tempo, já goleava por 5 a 2.
Se na etapa inicial marcara cinco, por que não repetir a dose nos 45 minutos finais? E foi exatamente isso o que fez a equipe comandada por Cláudio Cardoso, que chegou a estar vencendo por 8 a 2, permitiu mais um gol carioca mas, após marcar o nono gol, ouviu os inclementes gritos da galera, que pedia: “Mais um! Mais um!”. Pois coube a Tozzi – e nem poderia ser diferente, claro – a missão de atender à torcida e marcar mais uma vez.
Os palmeirenses, que compareceram em grande número ao aconchegante estádio paulistano, viveram uma inesquecível tarde de sábado.
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