CAP. 84 – UM “SANTO” CAMPEÃO (PARTE I)

Que campeonato aquele Paulista de 1950, meu amigo! Foi tão emocionante que até mesmo eu, então sequer um projeto de meus pais, arrepio-me ao lembrá-lo, como se o tivesse acompanhado bem de perto. É que estas viagens pelo tempo têm um efeito colateral inevitável: fazem-nos sentir saudades do que nunca vivemos.

Mas eu falava do Paulistão-50. Mais uma vez, Palmeiras e São Paulo protagonizaram as ações e detiveram as atenções durante todo o torneio. Embalados pela rivalidade desde sempre ferrenha, tanto dentro quanto fora de campo, as duas equipes disputaram rodada a rodada a primazia de vestir a faixa de campeã ao final da última jornada. E, tenho aqui de admitir, para o Tricolor o título valeria mais: campeão em 1948 e 1949, o time que então era do Canindé lutava pelo tricampeonato regional. Já os alviverdes tinham, “apenas”, o gostinho de tentar impedir tal façanha.

Cartaz comemorativo ao Ano Santo de 1950

Aquele foi, também, o chamado “Campeonato do Ano Santo”. Para os mais jovens, aí vai a explicação: naquele época, a força da Igreja Católica Apostólica Romana era inquestionável em nosso País e, assim, a cúria costumava ditar padrões e determinar comportamentos. Outra das suas atribuições era criar slogans que servissem para incentivar ainda mais a fé em seus dogmas. Desta forma, estabeleceu o Vaticano que, de 50 em 50 anos, viveriam todos os habitantes da Terra, fossem estes católicos ou não, o Ano Santo – algo que, na prática, nada de concreto ou real representava, a não ser uma data simbólica que comemorasse o nascimento de Jesus Cristo. Seguindo esta linha de raciocínio, o “Ano Santo” anterior havia sido 1900 e o seguinte haveria de ser 2000 – isso se o mundo não acabasse antes, claro.

O fato é que, em campo, São Paulo e Palmeiras travavam uma guerra nada santa pela liderança. Reforçados pelo ex-palmeirense Bovio, os são-paulinos tinham um time de dar inveja: no gol, o argentino Poy; na zaga, ninguém menos do que Mauro Ramos de Oliveira; a linha média, então, dispensava comentários: Rui, Bauer e Noronha; por fim, no ataque, além do antigo artilheiro do Verdão, craques da estirpe de Friaça, Remo e Ponce de León, que pouco depois ingressaria em nossas fileiras. 

Mas o Verdão também não ficava atrás: Oberdan, Turcão, Waldemar Fiúme, Sarno, Achilles, Jair Rosa Pinto, Brandãozinho, Rodrigues Tatu. Só por aí já dá pra sentir o “pega-pra-capar” que se sucedeu. 

Assim, ambas as equipes foram, rodada a rodada, se intercalando na liderança daquele Campeonato Paulista. Alguns resultados de ambos os times chamavam a atenção. O São Paulo, por exemplo, aplicou10 a 0 – isso mesmo: dez a zero! – no Guarani, num jogo disputado no Pacaembu. Já o alviverde foi um pouco mais modesto: sua maior goleada no certame foi6 a 0, sobre o Nacional. Terminado o primeiro turno, a ínfima vantagem palmeirense na tabela – 18 pontos, contra 17 – tornou o Paulistão ainda mais equilibrado e emocionante, como você poderá conferir em nosso próximo encontro.

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