Diversas vezes já tivemos a oportunidade de falar da lendária e inesquecível figura de Oswaldo Brandão. Inegavelmente o mais vencedor e, consequentemente, o melhor treinador de toda a história do Palmeiras, não à toa este gênio do comando tático e técnico carrega até hoje, decorridos mais de 27 anos de sua passagem ao plano espiritual, o título de “Velho Mestre”.
Mas houve uma vez, talvez a única em toda a sua brilhante a carreira, que Brandão pisou feio na bola. E pior: o erro não se referiu a uma escalação ou a uma alteração. O treinador acusou, sem provas concretas, dois grandes ídolos palmeirenses de terem se vendido antes de um clássico com o Corinthians. Além disso, afastou ambos por algumas partidas, deixando um enorme ponto de interrogação: seriam Og Moreira e Lima, o “Garoto de Ouro”, capazes de tão infame ato? Não, é claro que não. Mas contemos a história de forma que todos possam entendê-la, se é que isso é possível.
No dia 23 de novembro de 1947, o Verdão perdeu para o seu maior rival por2 a0, no Pacaembu, em jogo válido pelo Campeonato Paulista. O resultado, embora dolorido como todas as derrotas para o time “deles”, não causou nenhum grande prejuízo, já que pouco depois, como já tivemos a chance de lhes contar, faturamos o título daquele Paulistão. O problema é que, naquele derby, Lima deixou a desejar: não se movimentou como de costume, não deu passes e nem chutou a gol como geralmente fazia, características estas que o qualificavam como o melhor jogador da nossa equipe.
Embora tivesse atuado com o joelho contundido, Lima não convenceu Brandão de que havia sido este o motivo da má apresentação. E, sabe-se lá de onde, o treinador acreditou que o grande ídolo dos palmeirenses havia se vendido ao Corinthians por 30 mil cruzeiros. E mais: o técnico acusou, também, o médio direito Og Moreira, que nem sequer atuou na partida, de ter sido o intermediário de tão escusa transação.
Só que toda esta história demorou algum tempo para vir à tona. Após a conquista do título paulista, o Verdão seguiu jogando, sem férias, nos primeiros dias de 1948. Brandão, que já havia promovido o retorno de Lima ao time mas que não mais voltaria a escalar Og Moreira, preparava a equipe para a disputa do Título Honorário de Campeão do Brasil contra o Vasco da Gama/RJ.
Foi quando o médico palmeirense, Dr. Miguel Beraldi, resolveu contar para a diretoria o que de fato havia acontecido naquele clássico contra o Corinthians. Ele deu todos os detalhes e, ainda por cima, disse que Oswaldo Brandão o havia acusado de ter aplicado uma injeção no joelho de Lima para que este inchasse e, desta forma, explicasse o mau futebol do craque. Por fim, Beraldi explicou, também, que não divulgou antes toda esta história a fim de não prejudicar a campanha palmeirense no Paulistão.
Miguel Beraldi
Intimado a comprovar tais acusações, Oswaldo Brandão admitiu não ter provas inequívocas de que Og Moreira e Lima, de fato, haviam feito aquilo que ele os acusava, mas que sua decisão fora acertada pois, afinal, o time vencera o Paulistão mesmo sem ambos. Não colou: sem clima para continuar no comando do grupo, todo este solidário aos atletas, Brandão pediu demissão logo após uma derrota num amistoso para o River Plate/ARG. E na partida que garantiu o Título Honorário de Campeão do Brasil ao Verdão, poucos dias mais tarde, nosso técnico já era Cláudio Cardoso.
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