CAP. 74: SURGE UM NOVO CRAQUE. E NO BANCO.

Se é verdade que não há bem que sempre dure, também não se pode negar que não há mal que nunca acabe. Desta forma, após se limitar às conquistas municipais em 1946 e 1947, o Palmeiras voltou ao seu estado normal e se sagrou campeão estadual em 1947.

Oswaldo Brandão

Antes, porém, de lembrarmos tal conquista e os heróis que a proporcionaram, vale lembrar um fato interessante: no comando da equipe que naquele ano obteve seu 11º título regional estava ninguém menos do que o jovem Oswaldo Brandão. Isso mesmo: encerrando prematuramente sua carreira devido a uma malsucedida cirurgia realizada dois anos antes, aquele que futuramente seria apontado como um dos maiores treinadores da história do futebol brasileiro (e, na humilde opinião deste jornalista e historiador, o melhor dentre todos) e que colecionaria faixas em quase todas as equipes que dirigiria começou sua carreira de técnico no Verdão.

Inicialmente nas categorias de base, Brandão já mostrava todo o seu potencial. Numa rápida passagem pela equipe principal, entre outubro de 1945 e março de 1946, havia faturado seu primeiro título como técnico profissional: o da Taça Cidade de São Paulo de 1946, já relembrada por nós em nosso último encontro. Mas foi no ano seguinte que sua estrela passou a brilhar de forma mais intensa: assumindo o comando do nosso time em abril daquele ano em substituição a Ventura Cambon (demitido após pífia campanha na Taça do Atlântico, na qual perdemos – e feio – para os uruguaios Peñarol e Nacional e para o argentino River Plate), ele conduziria o Verdão ao título paulista da temporada.

Mas um treinador, por melhor que seja, precisa de um bom time para ganhar um campeonato. E não há como não reconhecer o esforço feito pela diretoria palmeirense, que não poupou esforços na manutenção das principais estrelas – Oberdan, Waldemar Fiúme, Lima (o “Garoto de Ouro”) e Canhotinho. Estes compensaram a perda de jogadores como o craque Villadoniga, negociado após o término do Paulistão de 1946.

Logo de cara o Verdão provou que dificilmente perderia aquele campeonato. Foram nada menos do que oito vitórias consecutivas, nas quais o time foi deixando seus adversários, rodada a rodada, cada vez mais longe. Como já tivemos a oportunidade de contar, antigamente a pontuação era feita por pontos perdidos, e não por pontos ganhos, como acontece hojeem dia. Assim, passadas as tais oito etapas do torneio, o Palmeiras seguia com zero ponto perdido, enquanto os demais grandes – Corinthians, Portuguesa de Desportos e São Paulo – estavam já bem atrás, respectivamente com três, quatro e oito pontos desperdiçados.

Tal vantagem e folga na classificação geral deu ao Palmeiras a tranquilidade para seguir firme em busca da taça. Para facilitar ainda mais as coisas, os pontas Lula, pela direita, e Canhotinho, pela esquerda, davam um show a cada jogo. Lula, aliás, acabou como artilheiro palmeirense naquele Paulistão, com 16 gols e a apenas três do principal goleador do torneio, o corintiano Servílio (pai de Servílio de Jesus Filho, que anos mais tarde se tornaria craque no próprio Verdão).

Numa partida específica, porém, Lula extrapolou. Aconteceu contra o São Paulo, no Pacaembu, em 17 de agosto de 1947. Naquela tarde, um estádio lotado viu um grande jogo, que terminou com a vitória palmeirense por4 a3. E Lula, exímio cobrador de faltas, fez três deles desta forma, deixando atônito o bom goleiro são-paulino Gijo que, anos antes, também defendera o alviverde. Por causa da violência com que batia na bola, a partir daquele jogo Lula ganhou um apelido: Canhão do Parque Antártica.

E assim o Palmeiras seguiu seu caminho, cujo final apontava, sem sombra de dúvida, para uma grande comemoração. Tal festa, contudo, teve um senão, um único senão, é verdade, mas que impossibilitou a conquista de mais um Campeonato Paulista de forma invicta. E este será o principal tema de nosso próximo encontro.

Até lá.

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