Uma das mais marcantes características dos primeiros anos de vida do Palestra Itália, e também motivo de muito orgulho, foi a impressionante rapidez com que ganhou status de grande clube. Fosse pela sua já grandiosa e fanática torcida – toda ela, claro, então formada apenas por italianos e seus descendentes diretos -, fosse pelo talento que seus jogadores demonstravam em campo, o fato é que o clube já desfrutava, com menos de quatro anos de vida, de um prestígio ao qual quase todos os demais levaram muito mais tempo para obter.
Talvez por isso os dirigentes palestrinos da época tiveram a coragem de tomar a decisão que tomaram logo no começo do Campeonato Paulista de 1918. Nas duas primeiras rodadas, duas vitórias – 2 a 1 no Internacional da Capital e 5 a 0 no Minas Gerais – deram a impressão de que o torneio seria disputado dentro da normalidade, mas não foi isso o que aconteceu.
Ocorre que o Paulistano, como já dissemos o grande clube brasileiro da época, havia acabado de contratar uma grande promessa, apontado pelos iniciantes especialistas em futebol um futuro craque: Artur Friedenreich. O time do Jardim América nem imaginava, mas ao tirar aquele mulato, filho de pai alemão e de mãe brasileira, do São Bento da Capital, havia adquirido o melhor jogador do Brasil até o surgimento de Pelé, o que aconteceria apenas 39 anos mais tarde. Assim, o alvirrubro não admitia nenhum outro resultado que não fossem as vitórias que o levassem ao tetracampeonato estadual.
Em 30 de junho, chegou a vez do esperado confronto entre palestrinos e paulistanos. Nossa equipe vinha de três jogos sem vitórias e duas derrotas seguidas (3 a 3 com o Corinthians, 1 a 3 para a A. A. Palmeiras e 2 a 3 para o São Bento da Capital) e, claro, o clima não era dos melhores. E piorou muito quando o árbitro do jogo, Fausto Torres, começou a ter uma atuação considerada parcial pelo alviverde. Perdendo por 2 a 1, reclamaram nossos jogadores de um pênalti claro não marcado e, para complicar ainda mais as coisas, não aceitaram quando o juiz marcou toque de mão de Grimaldi dentro da área, o que se converteu num penal e no terceiro gol do Paulistano.
Como as reclamações continuaram, ele expulsou o goleiro Flosi e o próprio zagueiro Grimaldi. Em protesto, o centroavante Heitor, o ponta-esquerda Aldighieri, o zagueiro Arione e o ponta-direita Caetano abandonaram o campo, reduzindo o time a cinco jogadores, o que evidentemente causou o fim da partida.
Foi uma confusão danada. Cercado por jogadores, dirigentes e torcedores, que invadiram o gramado do Campo do Jardim América, Fausto Torres precisou do auxílio da cavalaria para poder abandonar o local. Mas quem imaginava que tudo terminaria ali, estava enganado.
Três dias mais tarde, numa reunião que contou com a presença de aproximadamente 300 associados, ficou decidido que o Palestra Itália pediria sua desfiliação da Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA). Não haveria por que continuar a disputar o título do torneio se, como entendiam os palestrinos, ele já estava reservado ao Paulistano.
O problema é que, como falamos acima, o Palestra já era grande. E os demais clubes – com exceção, obviamente, do Paulistano – ficaram ao lado do nosso clube. Paralelamente, teve início um trabalho de convencimento dos diretores alviverdes no sentido de fazer com que o time não abandonasse o Campeonato Paulista. Sem a nossa presença, a competição perdia em emoção, graça e rivalidade. O assunto se arrastou por mais de um mês, tempo em que o torneio ficou interrompido.
Já em agosto, através da mediação do então presidente da Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo, Olival Costa, nosso time enfim aceitou voltar a competir, mas não sem antes ter a garantia por parte da APEA de que as arbitragens não lhe seriam prejudiciais.
Mas o Palestra Itália, porém, não voltaria àquele Paulistão. O motivo? Todos nós relembraremos em nosso próximo encontro. Até lá.
ATENÇÃO: ESTA É UMA OBRA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL, SENDO PROIBIDA SUA DIVULGAÇÃO TOTAL OU MESMO PARCIAL SEM A PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO AUTOR. OS INFRATORES SERÃO RESPONSABILIZADOS CRIMINALMENTE.
Para ler os capítulos anteriores, clique aqui.
27/06/2015 at 15:59
Orgulho e decepção.
Orgulho por nossa história, nossa coragem, nossa determinação em momentos importantes da nossa vida que moldaram nossa vida como instituição vitoriosa.
Decepção, vergonha, indignação, pela apatia, pela covardia que hoje domina a mentalidade palmeirense. Um clube que passou a aceitar ser pisado, humilhado em todos os níveis, sem o menor poder de reação. Um clube que passou a julgar que a vida se resume ao que acontece dentro dos seus muros e ignora o mundo exterior.