CAP. 154 – 1984: + 17 – 17 É IGUAL A… ZERO! (PARTE I)

Não é de hoje que a precipitação e a impaciência são inerentes ao futebol brasileiro. Desde sempre nossos dirigentes, antes exclusivamente amadores, se deixavam levar pela paixão na hora montar, de desmontar e de remontar elencos. Um bom exemplo disso ocorreu no Palmeiras quando chegou o ano de 1984: mesmo após as boas campanhas no Brasileirão e no Paulistão anteriores, a diretora resolveu mudar quase tudo – e, claro, os frutos que disso surgiram não foram nada saborosos.

Mas antes de lembrarmos a trajetória do Verdão na referida temporada, vamos recordar também quem deixou e quem chegou naquele ano. Além do treinador (saiu Rubens Minelli e veio Carlos Alberto Silva), ao todo 17 – isso mesmo: dezessete! – jogadores foram dispensados e/ou negociados pelo Verdão durante ou ao final da temporada de 1983. Dentre estes, destaque para o goleiro João Marcos, o cabeça-de-área Batista, o atacante Enéas e o lateral-direito Perivaldo, todos integrantes ou com várias passagens pela Seleção Brasileira. Além deles, jogadores que há muito vestiam a camisa verde também deixaram o clube, como o goleiro Gilmar, o ponta-esquerda Baroninho e o centroavante Carlos Alberto Seixas.

Esperava-se, claro, que a reformulação do elenco fosse ampla e vantajosa, mas ela se limitou apenas à primeira expectativa. De fato, se 17 foram embora, outros 17 tiveram de chegar – o problema é que nem em sonho a qualidade destes era superior à daqueles.

Claro que bons nomes foram contratados, casos do lateral-direito uruguaio Diogo, dos centroavantes Luizinho Lemos (irmão de César Maluco e melhor jogador da história do América/RJ) e Reinaldo Xavier, do ponta-direita Robertinho e do lateral-esquerdo Paulo Roberto. Mas, craques, mesmo, nossos dirigentes trouxeram apenas dois: Émerson Leão, que retornou ao clube do seu coração após vitoriosas passagens por Vasco/RJ, Grêmio/RS e Corinthians/SP, e principalmente Mário Sérgio, o “Vesgo”, um dos mais inteligentes e habilidosos meias que o futebol brasileiro já produziu. Ao lado deles, Luís Pereira, Vágner Bacharel e Jorginho completavam o quinteto de ases palmeirenses para aquele ano. Seria até um número razoável de grandes jogadores, não fosse um detalhe importante: nosso time entrava em seu oitavo ano sem a conquista de um título expressivo, os torcedores já tinham como característica a angústia, quase o desespero, e isso obviamente complicou demais as coisas.

Leão voltou ao Palmeiras em 1984. E, então, instituiu a famosa camisa “zebrada”.

O primeiro desafio de 1984 foi o Campeonato Brasileiro. Mas um detalhe, ou melhor, uma malandragem do Verdão acabou custando muito caro. Já classificado à etapa seguinte, o Palmeiras recebeu o Operário/MS no Morumbi, na última partida válida pela Primeira Fase. O empate garantia a classificação de ambos, e se vencesse nossa equipe terminaria na liderança da chave. Porém, paradoxalmente, seria inserida em um grupo bem mais difícil na Segunda Fase, no qual enfrentaria Inter/RS, Portuguesa Desp./SP e Brasil de Pelotas/RS. Se, no entanto, ficasse na igualdade diante dos sul-mato-grossenses, cairia em um grupo bem mais simples, ao lado de Santos/SP, Fortaleza/CE e CRB/AL.

Cientes de que haveria o famoso “jogo de compadres”, apenas pouco mais de 4 mil torcedores foram ao Morumbi e, claro, viram um empate por 2 a 2, resultado que deu ao Verdão o segundo lugar no grupo e a chance de, na etapa seguinte, disputar com o Peixe apenas quem seria o campeão da chave. O que ninguém esperava é que fôssemos surpreendidos nas duas primeiras partidas: perdemos para os cearenses por 1 a 0, em Sampa, e para os alagoanos, pelo mesmo placar, em Maceió/AL. Nosso melhor resultado foi um 2 a 2 com o time da Vila Belmiro, no Morumbi, o que nos deixou na última colocação do grupo, com apenas 1 ponto e a 4 pontos de distância do Fortaleza/CE.

No returno nosso desempenho melhorou um pouco, pois empatamos no Ceará (3 a 3) e ganhamos do Santos (3 a 2). Porém, chegamos à última rodada dependendo de uma vitória sobre os alagoanos (a qual obtivemos sem esforço: 7 a 0) e de uma derrota santista para o já classificado representante nordestino. Não deu: com dois gols de Serginho Chulapa, um de Ronaldo Marques e outro de Pita, o Peixe goleou por 4 a 1 e acabou na liderança da chave. Ao Palmeiras, coube a humilhação de não conseguir nem mesmo a segunda vaga em um grupo com dois humildes times nordestino.

Mas ainda haveria o segundo semestre e, por isso, as esperanças de novos tempos se renovavam. Será que foi isso o que aconteceu?

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