Como lembramos no mais recente capítulo de “Nossa História”, o ano de 1980 foi terrível para o Palmeiras. A pra lá de humilhante 16ª colocação na classificação final do Campeonato Paulista nos relegou à disputa da Taça de Prata de 1981, na prática a Série B do Brasileirão à época.
Explicando: a partir daquele ano, a CBD resolveu limitar em 40 o número de clubes que disputariam a divisão de elite do futebol brasileiro, e dividiu entre todos os estados tais vagas. São Paulo, claro, ficou com o maior número – 6 –, e assim apenas o seis primeiros colocados no Paulistão do ano anterior (São Paulo, Santos, Ponte Preta, Corinthians, Portuguesa e Inter de Limeira) garantiram suas vagas. A nós não nos restou outra opção a não ser reconhecer nossos erros e tentar o retorno à que hoje seria a Série A o mais rápido possível.
E o regulamento assim permitia: após a Segunda Fase do torneio, as quatro melhores equipes teriam o direito de voltar à principal divisão do futebol brasileiro ainda naquele ano. Ciente de que viveria uma situação até então inédita em sua vida, o Palmeiras teve de praticamente reestruturar toda a sua equipe.
Nada menos do que 12 jogadores foram contratados para a montagem da equipe, a maior parte vindos de equipes pequenas (casos dos laterais Benazzi e Jaime Boni, do zagueiro Darinta, do ponta-direita Osni, do goleiro João Marcos e do atacante Reginaldo). Mas também chegaram atletas um pouco mais conhecidos e que já tinham experiência em grandes clubes, casos do zagueiro Marquinhos (ex-Cruzeiro), do centroavante Paulinho (ex-Vasco da Gama/RJ), do cabeça-de-área Vítor Hugo (ex-Grêmio/RS) e, principalmente, do meia Sena (ex-Bahia). Também foram promovidos alguns jogadores, com destaque para o zagueiro Deda e o lateral-esquerdo Tonigato. Ao lado destes, apenas três remanescentes do ano anterior: o zagueiro Édson Furquim, os meias Jorginho Putinatti e Romeu Cambalhota e o ponta-esquerda Baroninho. No comando, um antigo ídolo: Olegário Toloy de Oliveira, o Dudu.
Na primeira fase do torneio, medimos forças contra equipe que nem em sonho imaginaram que um dia poderia enfrentar um gigante como o Verdão, casos dos gaúchos São Paulo, Internacional de Santa Maria e Novo Hamburgo e do Comercial/MS. Além destes, encaramos também o Criciúma/SC e os paulistas Ferroviária e América de Rio Preto. Com quatro vitórias e três empates, nossa equipe garantiu a primeira das duas vagas da chave e, na etapa seguinte, disputou com Americano de Campos/RJ e Guarani/SP a chance de voltar à Série A.
Teríamos apenas quatro jogos para fazer valer a nossa supremacia diante dos dois adversários, e começamos muito bem: 2 a 1 no time fluminense, com gols de Osni e Cambalhota. Na partida seguinte, em Campinas/SP, tivemos pela frente um Bugre desesperado, já que perdera em sua estreia, fora de casa. Daí o empenho do time interiorano ter sido fundamental à nossa derrota por 2 a 1 (gol palmeirense marcado por Sena). Ou seja: terminado o primeiro turno, as três equipes somavam 2 pontos, e nossa única vantagem era no saldo de gols (1, contra zero dos outros dois).
Veio o returno e qualquer falha nos seria fatal. Goleado pelo Guarani/SP por 4 a 1, o Americano/RJ jogou sua vida na última partida, em sua casa, mas ainda assim conseguimos um resultado que, pelo menos, nos deixava vivos para a última e decisiva encontro: empatamos sem gols. Ou seja: no último jogo do grupo, teríamos de vencer Careca, Jorge Mendonça e que tais se quiséssemos a classificação, já que somávamos apenas 3 pontos, contra 4 do time dirigido por Zé Duarte.
Mais de 35 mil palmeirenses lotaram o Palestra Itália naquela noite de quarta-feira, e foram à loucura com um show do meia Sena. Aos 11 e aos 32 minutos do segundo tempo (reveja os gols clicando em https://www.youtube.com/watch?v=OxO9Q9Etn1E), ele garantiu não só a vitória por 2 a 0, mas também a volta antecipada ao lugar de onde o Palmeiras jamais deveria ter saído.
Afinal, quem é rei jamais perde a majestade.
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