O futebol, diziam os mais antigos, é uma caixinha de surpresas. Por isso mesmo, nem o mais pessimista dentre todos os palmeirenses espalhados por todo a Terra poderia imaginar que a década dos 80 seria, de longe, a mais difícil de toda a história do clube. Como já sabemos, tal condição mudaria de dona anos mais tarde, mas este será um assunto sobre o qual falaremos em seu devido tempo. O que vale, agora, é relembrar e, principalmente, tentar explicar por que o Verdão nos fez sofrer tanto e durante tanto tempo.
Comecemos, assim, como ano de 1980, que conforme relembramos em nosso mais recente encontro teve início com duas perdas significativa: a vaga na grande final do Paulistão de 1979 para o Corinthians/SP e o técnico Telê Santana para a Seleção Brasileira.
Ainda que toda a Imprensa garantisse a troca no comando do selecionado nacional, nossa diretoria pareceu ter sido pega de surpresa com o pedido de demissão por parte do treinador. Para piorar, o Campeonato Brasileiro começaria em menos de 30 dias e, portanto, se tornava obrigatória a rapidez na escolha do novo comandante da equipe. Mas não foi desta forma que agiu a diretoria que, à época, era presidida por Delfino Facchina.
Só para se ter uma ideia, o Verdão estrearia no Brasileirão no dia 24 de fevereiro, diante do Vitória/BA, no Morumbi, mas o substituto de Telê Santana só assinou contrato oito dias antes. E pior: o escolhido foi Sérgio Clérice, brasileiro que durante mais de 20 anos atuou como centroavante na Itália e que de lá voltara havia poucos meses, trazendo na bagagem muito dinheiro e no falar um acentuado sotaque italiano. Mas à beira do gramado sua experiência se limitava, apenas, à pequena Ferroviária de Araraquara/SP, de onde saiu para dirigir nosso time.
Interessante, porém, se faz ressaltar um detalhe: além de Telê, o único nome de peso que deixou a equipe foi Jorge Mendonça, negociado com o Vasco da Gama/RJ. Todos os demais titulares, que haviam encantado o País cerca de três ou quatro meses antes, permaneceram, mas mesmo assim a queda da equipe foi avassaladora. Na primeira fase do torneio nacional, vencemos apenas quatro dos nove jogos, e tivemos resultados muito negativos, como a derrota para a Desportiva/ES.
Tal campanha nos classificou, é fato, mas nos fez cair em um grupo complicado na etapa seguinte, ao lado de Santa Cruz/PE, Bangu/RJ e Flamengo/RJ. Logo de cara, perdemos em pleno PaIestra Itália para o time de Moça Bonita – 3 a 2, resultado vexatório que causou a demissão de Sérgio Clérice. A solução encontrada pela diretoria foi recorrer a um velho ídolo palmeirense, Oswaldo Brandão, que estreou logo na rodada seguinte e teve de ver Zico e as demais estrelas flamenguistas se vingarem dos 4 a 1 que haviam sofrido no fim de 1979 e devolverem, com juros, tamanha humilhação: aplicaram 6 a 2 e levaram o Maracanã à loucura.
Tirando forças sabe-se lá de onde, o Palmeiras ainda conseguiu ficar com a segunda vaga da chave e foi encarar Inter/RS, Cruzeiro/MG e Guarani/SP na etapa seguinte. Nesta, jogos apenas em turno único e com somente um classificado de cada grupo às semifinais. Obviamente, não chegamos nem perto e terminamos aquele Brasileirão apenas na 13ª colocação.
Mas haveria, ainda, o Paulistão, torneio no qual o Verdão estreou somente quatro dias após se despedir do Campeonato Nacional. Se as coisas não haviam ido bem até então, elas somente piorariam dali em diante.
Para simplificar, atente-se apenas aos números do Palmeiras naquela competição: 38 jogos, 15 derrotas, 14 empates e 9 vitórias. Nem mesmo a troca de Brandão por outra aposta, Diede Lameiro, surtiu algum efeito. Também pudera: até o fim daquele ano, outros cinco importantes atletas deixaram a equipe: Mococa, Nei, Rosemiro, César e Beto Fuscão. Já as contratações, infelizmente, não deram o resultado esperado, casos do meia Freitas (ex-Coritiba/PR), do volante Vanderlei (ex-Ponte Preta/SP), e dos pontas Lúcio (ex-Guarani/SP) e Romeu Cambalhota (ex-Corinthians/SP).
O resultado de tudo isso: 16º lugar, a apenas duas posições do rebaixamento e, pior ainda, desqualificado para a Taça de Ouro, a Série A do Brasileirão daquela época. Isso mesmo, prezado internauta: teríamos de disputar a Série B do Campeonato Brasileiro do ano seguinte. Por quê? Nós explicaremos esta história em nosso próximo encontro.
Até lá!
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23/01/2018 at 13:26
Isso é uma aula de Palmeiras. Parabéns. Deveria escrever um livro.