CAP. 147 – O TÍTULO QUE VICENTE MATHEUS NOS ROUBOU

Vicente Matheus foi um dos mais importantes presidentes da história do Corinthians/SP e, sem dúvida alguma, o mais famoso e também o mais folclórico dentre todos eles. Figura extremamente simpática, dócil e educada, era incapaz de uma indelicadeza com quem quer que fosse. E mais: se podia, e quase sempre podia, ajudava a quem começava, caso específico deste jornalista em seus primeiros dias de profissão (mas esta é uma outra história, que não vem ao caso e nem cabe nesta seção). 

Mas ele tinha também um gravíssimo defeito: amava o seu clube acima de todas as coisas. Para ele, era o Timão na Terra – e no Céu também. Não uma nem duas, mas inúmeras vezes colocou em risco o seu patrimônio pessoal para que o nossos maior rival pudesse contratar um ou mais craques. Em outras palavras: se era para o bem do Corinthians/SP, Vicente Matheus não media esforços e nem se preocupava se suas ações seriam ou não ilícitas. 

Como contamos em nosso mais recente encontro, o Palmeiras “passeava” no Campeonato Paulista de 1979. Nossa equipe, após ser dirigida por Telê Santana, passou a jogar um futebol técnico, envolvente e vencedor, características que marcariam todas as equipes dirigidas pelo treinador – inclusive a Seleção Brasileira de 1982. Por isso, não foram poucos os que começaram a apregoar que, enfim, surgia a “Terceira Academia”. Para tanto, porém, seria necessário que títulos viesse, e o primeiro deles, claro, seria o Paulistão. Seria. Mas, como sabemos, não foi. E tudo porque Vicente Matheus aproveitou-se de uma decisão equivocada por parte da FPF para bagunçar o torneio e suspender seus jogos. 

Após cumprir a melhor campanha tanto na 1ª quanto na 2ª Fase da competição, o Verdão apenas contava os dias para colocar a mão na taça. Na segunda rodada desta segunda etapa, a entidade comandada então por Nabi Abi Chedid resolveu marcar uma rodada dupla no Morumbi: na preliminar, os corintianos receberiam a Ponte Preta e, no jogo principal, seria a vez do Palmeiras encarar o Guarani. A arrecadação seria dividida igualmente entre a quatro equipes. 

Vicente Matheus, presidente do Corinthians/SP

Era o que o presidente alvinegro precisava: alegando ter uma torcida maior do que os três outros clubes, Vicente Matheus ordenou que seu time não entrasse em campo. “Por que temos que dividir com os outros, se o comunismo ainda não veio?”, perguntava o dirigente. “Podemos perder os pontos, posso perder até a presidência, mas o que não podemos é vender o torcedor corintiano para os outros”. A FPF chegou a oferecer à Macaca a garantia de uma renda de cinco milhões de cruzeiros para que fosse realizada uma nova partida em outra data, mas o clube campineiro foi irredutível e, diante do W.O. corintiano, exigiu os dois pontos do jogo. 

Após um sem-número de medidas cautelares e recursos na Justiça, os pontos da partida foram dados à Ponte Preta/SP, considerada vencedora por 1 a 0. O problema é que o processo demorou demais e, por isso, as semifinais do Paulistão tiveram de ser adiadas para após as férias dos jogadores, ou seja, para a última semana de janeiro de 1980. Era tudo o que Matheus queria: a paralisação do campeonato seria o único artifício capaz de “quebrar” o embalo palmeirense, e esta seria a única forma de sua equipe eliminar o rival e ir às finais. Não deu outra: no primeiro jogo, realizado em 27.01, vencíamos com um gol de Jorge Mendonça até os 40 do segundo tempo, mas levamos o empate através do meia Palhinha. Na segunda partida, disputada quatro dias depois, um gol de canela marcado por Biro Biro aos 7 minutos do segundo tempo acarretou nossa eliminação mesmo sendo donos da melhor campanha. Nas finais, claro, nosso maior rival levou a melhor sobre a Macaca e faturou o caneco. 

Juro pra vocês que até hoje não consigo entender como a diretoria do Palmeiras aceitou de forma tão passiva esta manobra extracampo de Vicente Matheus, e menos ainda como eu consegui, anos mais tarde, gostar tanto dele e com ele manter um relacionamento tão amistoso até que retornasse ao Plano Espiritual, aos 88 anos, em 08.02.1997. 

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