É dever de todo historiador que se preze seguir uma narrativa linear dos fatos. Em outras palavras: contar o que se propõe a contar na ordem cronológica em que eles aconteceram. Ocorre, porém, que às vezes tal estratégia não é a mais indicada, pois ao falarmos de determinados acontecimentos somos obrigados a recordar outros que, neste caso, aconteceram em outras épocas, tanto passadas quanto futuras. É o caso deste 81º capítulo de “Nossa História”.
Lembramos anteriormente as duas conquistas do Palmeiras no chamado “Título Honorário Campeão do Brasil”, uma competição que, como vimos, reuniu algumas vezes os ganhadores dos Campeonatos Paulista e Carioca e que, com o passar do tempo, sumiu do mapa. Na história do futebol brasileiro, aliás, vários são os torneios que, mesmo desfrutando de enorme prestígio durante muito tempo, depois simplesmente desaparecem, sem mais nem por quê.
Desta vez, vamos lembrar mais um deles: a Taça Cidade de São Paulo. Antes, porém, de relembrarmos nossa trajetória no torneio, é preciso explicar o que era tal competição.
A primeira delas, instituída em 1940, foi a única com um número de participantes e regulamento diferentes. Disputado por Palestra Itália, Corinthians, Atlético-MG e Coritiba/PR, o torneio serviu também para a inauguração do Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu. Claro que o Verdão teria de ser o primeiro a faturá-lo: na primeira partida, goleou o time paranaense por 6 a 2, com três gols do artilheiro Echevarrietta e outros de Elyseo, Luizinho Mesquita e Sandro. Na partida final, outra vitória, sobre o arqui-inimigo do Parque São Jorge: 2 a 1, gols de Echevarrietta e Luizinho Mesquita.
A partir de então, a Taça cidade de São Paulo passou a ser disputada sempre pelos três primeiros colocados no Campeonato Paulista do ano anterior. Disputando um triangular simples, geralmente com todos os jogos acontecendo no Pacaembu, sagrava-se campeão o time que mais pontos somasse (ou melhor, o que menos pontos perdesse, já que era este o critério adotado na época). Muitas vezes, cada uma das equipes ganhava um e perdia o outro jogo que disputava, e por não haver critérios de desempate como os atuais (saldo de gols, gols a favor, etc.), iniciava-se novamente a disputa, ignorando-se por completo os resultados da primeira “rodada”. Estranho? Talvez, mas não muito menos do que acontece hoje em dia, certo?
A segunda vez que o Verdão faturou o troféu foi em 1945. Num triangular com São Paulo e Corinthians, levamos a melhor: logo no primeiro jogo, batemos o Tricolor por 1 a 0, gol de Gonzáles. Favorecido pelo empate entre os dois rivais (4 a 4), o Palmeiras chegou à decisão contra o alvinegro sem precisar vencer para ser campeão. Não deu outra: o resultado de 1 a 1 – outro gol de Gonzáles – garantiu a festa verde.
Nosso tricampeonato veio no ano seguinte. Na edição de 1946, outra vez o chamado “Trio de Ferro” foi à luta e, nela, o Verdão se saiu vencedor de forma inquestionável: no primeiro jogo, goleou o Corinthians por 4 a 1 (três gols de Lima, o “garoto de Ouro”, e outro do ponta Gonzáles); na segunda partida, uma nova vitória (2 a 1) sobre o São Paulo garantiu a festa. Os gols? Um de Mantovani e outro de… Lima, claro.
Chegamos, agora, ao ano de 1950, quando o Verdão faturou, mesmo diante de maior dificuldade, o tetra da Taça Cidade de São Paulo em disputa com o São Paulo e a Portuguesa de Desportos. Uma vitória dificílima sobre a Lusa, por 3 a 2, com dois golaços de Jair Rosa Pinto e outro do baixinho Achilles, nos deixou muito perto do título, já que a equipe rubro-verde vencera o Tricolor e, com isso, nos deixava a um empate da festa. Com o regulamento embaixo do braço, seguramos o 2 a 2 – gols de Jair Rosa Pinto e Achilles – e levamos mais uma taça para o Parque Antártica.
A quinta e última conquista alviverde neste torneio veio logo no ano seguinte, 1951. A novidade foi a presença, ao lado de Palmeiras e São Paulo, de um “estranho no ninho”: o Santos FC. E não deu mesmo para a equipe da Vila Belmiro, então longe do time que, menos de uma década depois, começaria a encantar o mundo: de cara, o Peixe levou de 6 a 2 dos nossos craques – dois gols de Achilles e um de Rodrigues Tatu, Lima, Liminha, Cilas e Nenê (contra). Depois, nova derrota para o São Paulo e a decisão estava armada: Verdão e Tricolor. Nela, um clássico disputadíssimo e uma vitória consagradora: 3 a 2, com dois de Achilles (aquele, sim, é que era o verdadeiro “Baixinho”) e outro de Liminha.
Com esta fórmula, a Taça Cidade de São Paulo seguiu até 1952, e daí em diante teve algumas reedições, em anos alternados, mas com a presença de muito mais clubes do que apenas o três primeiros da temporada anterior. O último ano em que esteve em disputa foi 1973.
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