Há quem diga, e não são poucos, que o vice-campeão nada mais é do que o primeiro entre os últimos colocados. Exageros à parte, é mesmo bem melhor para uma equipe terminar seguidos campeonatos na terceira posição do que ficar tachada de “amarelar” por perder sempre na hora da decisão.
Ainda bem que tal situação, algo comum hoje em dia, no passado não era desta forma encarada. Caso a tivesse sido, certamente o nosso Palestra Itália teria carregado a pecha de medrar sempre que uma partida decisiva acontecesse ou, então, de não conseguir chegar ao título, ficando invariavelmente apenas a alguns pontos da grande conquista.
Dito isso, já percebeu o amigo internauta que o tema principal deste capítulo não nos é dos mais agradáveis. Falamos do Campeonato Paulista de 1923, no qual o Verdão lutou muito mas não foi mais além do que o segundo lugar.
A bem da história, é preciso que se ressalte que isso só aconteceu porque a diretoria palestrina resolveu abrir mão do título. Às vezes, a arrogância e a certeza de que se é superior a tudo e a todos custam muito caro. E foi devido a uma absurda decisão tomada pela direção do clube que entregamos o título, de mão beijada, ao nosso maior rival.
Esta decisão, inadmissível nos dias de hoje, teve origem no jogo do dia 9 de setembro, quando o Palestra Itália derrotou o Germânia por 3 a 2. O resultado foi bastante contestado pelos jogadores do clube de origem alemã devido a um gol marcado, segundo eles, após o apito final, o que faria com que a partida terminasse empatada (na época não existiam os acréscimos, como hoje). Contudo, o árbitro Sebastião Cravallos, alegando ter apitado o fim do encontro somente após a bola ter ultrapassado a linha fatal, decretou a vitória palestrina.
Inconformada, a diretoria do Germânia levou o caso à APEA, que decidiu marcar um julgamento para a questão. Esta posição tomada pela entidade que organizava o Paulistão causou um profundo mal-estar entre os palestrinos. Não havia chance alguma de o resultado do jogo ser alterado, mas somente o fato de ter uma vitória obtida no campo de jogo discutida nos tribunais já arranhou a superioridade que os dirigentes alviverdes julgavam ter.
A fim de mostrar a sua força e provando confiar totalmente na capacidade de sua equipe, a diretoria palestrina comunicou à APEA que, em represália ao fato, deixaria de comparecer à partida seguinte, perdendo desta forma por WO. Assim, diziam os italianos, o clube comprovaria sua grandeza e, mesmo desperdiçando dois pontos, ainda haveria de conquistar o título. O que ninguém pareceu ter se lembrado é que o jogo seguinte seria contra o Corinthians, justamente a equipe que mais próxima estava da taça.
Cumprindo aquilo que prometera, nossa equipe venceu os seus três últimos jogos, enquanto o time da Ponte Grande perdeu sua última partida, para o Sírio, por 3 a 2. E como, no fim do torneio, a diferença entre nós e “eles ” foi de apenas dois pontos (29 a 27, para ser mais exato), a conclusão é muito simples: se tivesse jogado o clássico marcado para o dia 16 de setembro e, claro, se o tivesse vencido, a festa do título paulista de 1923 teria sido alviverde, e não alvinegra.
Quando os dirigentes palestrinos fizeram as contas, já era tarde demais.
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