Já tivemos a chance de contar no capítulo 20 de “Nossa História” como nasceu a rivalidade contra o Corinthians. Agora chegou a vez de ilustrarmos esta eterna rixa entre os dois clubes, e um bom exemplo disso ocorreu no Campeonato Paulista de 1921.
Antes, porém, de contarmos como o Verdão ajudou com que “eles” perdessem mais um título, vale lembrar que nosso time chegou ao final daquele Paulistão já sem chances de ser campeão em razão de um fato muito estranho. No ano em que lutávamos pelo bi, é claro que o Paulistano, que perdera a hegemonia estadual, queria de todo jeito recuperar a coroa. Assim, rodada a rodada, ambas as equipes disputavam palmo a palmo a liderança da tabela.
Pois bem: jogavam Palestra Itália e Internacional da Capital no Parque Antártica naquela tarde de 29 de maio de 1921. De fato, não apresentávamos um futebol dos melhores, e a dez minutos do fim da partida a estávamos perdendo por 3 a 2. Porém, ainda faltava um pouco de tempo para buscarmos ao menos o empate. Só que o árbitro Ayrton Bacchi não deixou: por um erro grotesco, ele terminou o jogo aos 35 da etapa final. De nada adiantaram os protestos palestrinos, pois ele não arredou pé de sua decisão. E os jogadores adversários, claro, deixaram o gramado rapidamente.
Uma grande polêmica se estabeleceu: deveria se anular o jogo, e consequentemente o repetir, ou se jogar apenas os 10 minutos restantes numa outra data? A primeira hipótese foi rejeitada por 6 votos a 4 numa reunião realizada na sede da APEA. Pela segunda possibilidade houve cinco votos a favor e outros cinco contra. Coube ao presidente da entidade, Benedito Montenegro, o voto decisivo. E ele, de forma surpreendente, não optou por nenhuma das possibilidades – simplesmente resolveu manter o resultado da partida. Nem precisa dizer que o dirigente era torcedor fanático do Paulistano, certo?
Aquela derrota acabou sendo fatal às pretensões palestrinas de levantar mais uma taça, pois apenas mais uma vez o time foi derrotado na competição – e justamente para o Paulistano. De qualquer forma, mesmo sem serem bicampeões, o sorriso se estampou no rosto de cada alviverde ao fim do torneio, e agora então chegamos ao objeto principal deste capítulo.
O Campeonato Paulista de 1921 só foi decidido em sua última rodada, disputada – acredite se quiser! – na véspera e no Dia de Natal. O Corinthians só dependia de suas forças para ficar com a taça, já que liderava a tabela com 38 pontos, um a mais do que o Paulistano e dois a mais do que o Verdão. Ao Paulistano, restava ganhar sua última partida – contra o Sírio – e torcer por uma vitória nossa diante do time que, na época, ainda era da Ponte Grande.
O clube do Jardim América fez a sua parte e, em 24/12/1921, ganhou da equipe da colônia árabe por 3 a 2, chegando aos 39 pontos e ultrapassando o alvinegro. No dia seguinte, sua torcida ajudou a lotar o Parque Antártica e fervorosamente torceu pelo Palestra Itália.
Movidos pelo amor à camisa e também pela rivalidade já então bastante grande, nossos jogadores disputaram aquele clássico como se uma vitória lhes valesse o troféu. Tanto empenho surtiu efeito, e o placar final apontou mais uma goleada a nosso favor: 3 a 0, gols de Martinelli, Imparatinho e Heitor. Com o resultado, terminamos aquele Paulistão como vice-campeões e ficamos na frente “deles”, já que os ultrapassamos no saldo de gols.
O título ficou com o Paulistano, e isso não foi muito bom. Mas, por outro lado, também não ficou com o Corinthians. E isso foi bom demais!
ATENÇÃO: ESTA É UMA OBRA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL, SENDO PROIBIDA SUA DIVULGAÇÃO TOTAL OU MESMO PARCIAL SEM A PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO AUTOR. OS INFRATORES SERÃO RESPONSABILIZADOS CRIMINALMENTE.
Para ler os capítulos anteriores, clique aqui.