Contar com o apoio de importantes empresas não é privilégio do futebol atual. Na verdade, desde os primeiros chutes na antiga bola de capotão já havia a participação direta de indústrias e lojas comerciais.
Isso se dava da seguinte forma: como o futebol era amador, estas firmas contratavam os jogadores do clube que mais lhe agradassem para as mais diversas funções, desde porteiros e faxineiros até motoristas e escriturários. Desta forma, os “empregados” recebiam mensalmente seus salários mas, na verdade, quase nunca apareciam nos locais de trabalho. Com isso, burlavam a legislação e podiam jogar normalmente. Isso não acontecia com todos os atletas, claro, mas com certeza com a maioria deles.
O Scottish Wanderers, porém, não dispunha de tal regalia. Integrante do Campeonato Paulista desde 1914, o time da colônia escocesa fora fundado pelos jogadores que, até 1912, defendiam o São Paulo Athletic Club, time pelo qual atuou Charles Miller. Porém, com o fim do SPAC, por amor ao esporte criaram a equipe e passaram a jogar por ela no certame.
Às vésperas do Campeonato Paulista de 1916, porém, um escândalo veio à tona. Inconformado por não ter sido aceito no time, um jogador denunciou o esquema que mantinha vivo o Wanderers: após cada partida, parte do valor arrecadado com a venda de ingressos não era destinada às despesas gerais do clube, mas sim dividida entre todos os atletas. Isso configurava profissionalismo, e a APEA jamais iria aceitar tal desonra.
O amigo que ora passa os olhos por estas linhas certamente deve estar se perguntando: por que, afinal, se odiava tanto a ideia de o futebol se tornar profissional? A resposta é simples, caro palmeirense: os homens que comandavam o esporte naquela época entendiam que ele só teria futuro se fosse disputado com abnegação, com amor, e não por dinheiro. Claro que os dirigentes da entidade paulista sabiam da contratação de jogadores por parte de empresas, mas faziam vistas grossas porque, claro, todos precisavam sobreviver. E já naquela época era impossível trabalhar de segunda a sábado, do começo da manhã até o fim da tarde, e ainda por cima ter condições de jogar no domingo. Mas daí a atletas receberem dinheiro para jogar…
Comprovada a irregularidade, o Wanderers foi expulso da APEA e, claro, não pôde disputar o Campeonato Paulista seguinte. Aliás, poucos dias depois acabou sendo extinto. Abria-se uma vaga, e é evidente que o Palestra Itália à ela se candidatou. Afinal, só não estava inserido no torneio porque perdera para o Santos.
Alegres e sorridentes, lá foram os italianos novamente à sede da Associação Paulista de Esportes Atléticos pleitear um lugar no Paulistão/16. Estavam eles certos de que, dessa vez, não teriam problemas, que não encontrariam resistências. Mas de certos eles não tinham nada. Mais uma vez, as portas da entidade lhes foram fechadas. A alegação oficial era que uma equipe que perde por 7 a 0 não tem a nível para disputar uma competição tão importante. Mas, na verdade, o que nosso clube já enfrentava, desde então, era um grande preconceito, uma xenofobia explicável apenas pelo fato de muitos “oriundis” já terem enriquecido e, por isso, se tornado patrões de inúmeros paulistas. Em outras palavras: era puro despeito.
Foi então que alguns destes italianos de sucesso, todos pertencentes à IRFM – Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo – entraram na briga pelo direito do Palestra Itália disputar o Campeonato Paulista de 1916.
Mas esta é uma história para o nosso próximo encontro.
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