Palestra encara o Santos e, mesmo jogando na Vila, não apenas vence como conquista mais um título estadual.
Já tivemos a oportunidade de contar que, no meio da década dos 20, o Palestra Itália tinha um time muito competente. Tendo como pilares o zagueiro Bianco, os médios Xingo e Serafini, o meia Lara e, principalmente, o centroavante Heitor, o alviverde não encontrava adversários que estivessem à sua altura dentro dos limites regionais.
Daí que, após a taça do Campeonato Paulista de 1926 e, logo em seguida, da conquista do título honorário de Campeão do Brasil, nossa equipe era a grande favorita ao bicampeonato estadual. E não deu outra: com uma grande campanha – em 15 jogos, foram 13 vitórias, um empate e apenas uma derrota, sendo que esta só aconteceu após termos garantido mais uma faixa. Além disso, nosso ataque era simplesmente fabuloso, tendo marcado 84 gols (excelente média de 5,6 por jogo).
Naquele ano, o Paulistão teve uma pequena alteração em seu regulamento, que deixou de ser o tradicional “turno e returno” para ter, após um turno único, a realização de um quadrangular, também com jogos apenas de ida, entre os quatro primeiros colocados na fase de classificação. Como os pontos obtidos na primeira etapa foram mantidos (outra novidade, aliás esdrúxula), o Verdão conquistou o primeiro bicampeonato paulista de sua história logo na segunda partida da Segunda Fase e, portanto, com uma rodada de antecipação.
No início do quadrangular final, o Palestra somava 25 pontos, contra 24 do Santos, 22 do Corinthians e 19 do Guarani. Logo no primeiro jogo da fase final, em 05/02/1928, o Peixe venceu o Bugre fora de casa e nos ultrapassou. Cumprindo uma tabela pra lá de esquisita, estreamos diante do mesmo time campineiro, no Parque Antarctica, goleando por 4 a 2, mas apenas 19 dias mais tarde. Com isso, retomamos a liderança, pois chegamos aos 27 pontos contra 26 dos santistas. A briga pelo título continuou na rodada seguinte, com o Santos ganhando do Corinthians por 1 a 0, em São Paulo/SP. Fazendo as contas, Santos 28 a 27.
Desta forma, ao time do Litoral cabia apenas mais uma partida, contra duas do alviverde (ainda teríamos pela frente, além do próprio alvinegro praiano, também o nosso maior rival, na última rodada). Porém, caso nos vencesse, o Peixe já garantiria o título, pois chegaria aos 30 pontos e não poderíamos mais o alcançar. Para piorar a nossa situação, o jogo seria na Vila Belmiro, reduto do alvinegro praiano.
Nosso adversário tinha um time fortíssimo e uma linha de ataque que se tornou inesquecível por ter sido a primeira a atingir a marca de 100 gols numa mesma competição. E toda esta força ofensiva o Palestra sentiu na pele com menos de um minuto de jogo, quando Siriri abriu o placar. Para piorar as coisas, Heitor perdeu um pênalti logo depois, o que poderia ter mudado a história do clássico. Poderia, mas não mudou. Por sorte, Tedesco aproveitou de cabeça um bom cruzamento de Xingo e, aos 12 minutos, empatou.
No segundo tempo, entretanto, o alviverde foi bastante superior. Aos 17 minutos, Lara virou o jogo e, aos 21, Perillo fez o terceiro, para desespero dos santistas. Minutos depois, o árbitro Anthero Molinaro interrompeu a partida e começou a discutir com torcedores do Peixe, algo hoje absurdo mas que, naquela época, era muito comum. O problema é que isso gerou uma enorme confusão, houve invasão de campo generalizada e a partida ficou parada por quase meia hora.
Reiniciada a decisão, ao Palestra Itália coube apenas tocar a bola e esperar pelo seu final. Quando Siriri, novamente, venceu a meta defendida por Perth, já nos acréscimos, não havia mais tempo para que a vitória mudasse de lado. Com 29 pontos, quem não poderia ser mais alcançado no quadrangular final era o nosso time.
E por motivos óbvios, mais uma vez faltou vinho tinto nas tabernas paulistanas.
CAMPEONATO PAULISTA/1927
ESTÁDIO URBANO CALDEIRA – VILA BELMIRO, EM SANTOS/SP
ARRECADAÇÃO NÃO DIVULGADA
PÚBLICO NÃO DIVULGADO
ANTHERO MOLINARO/SP
SIRIRI AOS 30 SEGUNDOS E TEDESCO AOS 12 MINUTOS DO PRIMEIRO TEMPO. LARA AOS 17, PERILLO AOS 21 E SIRIRI AOS 46 DA ETAPA FINAL.
ATHIÊ
-
BILU
MEIRA
-
HUGO
JÚLIO
ALFREDO
-
OMAR
CAMARÃO
SIRIRI
ARAKEN PATUSKA
EVANGELISTA
PERTH
-
BIANCO
MIGUE PASCHOARELLI
-
XINGO
GOGLIARDO
SERAFINI
-
TEDESCO
ARMANDO
HEITOR
LARA
PERILLO
TÉCNICO: AMÍLCAR BARBUY
Obs. – Crédito foto capa: site Palestrinos.