CAP. 28: PAULISTANO MAL-AGRADECIDO

Paulistano poderia vencer o time “deles” e devolver a gentileza do ano anterior. Poderia, mas não o fez.

Tivemos a oportunidade de relembrar, no capítulo anterior de “Nossa História”, que no Campeonato Paulista de 1921 o Palestra Itália evitou, na última rodada, que o Corinthians faturasse o título. Ao goleá-lo por 3 a 0, os palestrinos acabaram garantindo ao Paulistano mais uma taça.

Mas o futebol, e talvez seja este um dos motivos que mais o tornam apaixonante, tem lá os seus mistérios. E foi exatamente isso o que aconteceu no Paulistão de 1922, cujo desfecho poder-se-ia considerar irônico se não nos tivesse sido trágico.

Desde o começo da competição, ficou bem claro que havia apenas dois aspirantes ao primeiro lugar: o Palestra Itália e o Corinthians. O Paulistano, sabe-se lá por que, não apresentava a mesma força de campeonatos passados, ainda que em suas fileiras permanecesse jogando, e cada vez melhor, Arthur Friedenreich.

A prova do equilíbrio entre palestrinos e corintianos é que, ao fim do primeiro turno, ambas as equipes apareciam empatadas na primeira colocação com 15 pontos. O derby, aliás, também terminou empatado: 2 a 2.

No segundo turno o equilíbrio permaneceu. Parecia incrível, mas quando o Palestra tropeçava, o Corinthians logo em seguida também pisava na bola. Nas últimas rodadas, porém, tudo indicava que conseguiríamos nosso segundo título estadual, pois a cinco partidas do fim do Campeonato Paulista vencemos nosso principal rival por 3 a 2. Além disso, ganhamos também os três jogos seguintes e, a duas rodadas do final, dependíamos exclusivamente de nossas forças para mais uma vez pintar de verde e branco as ruas daquela Paulicéia, então ainda mais desvairada em razão da Semana de Arte Moderna que em nossa Cidade se realizara naquele ano.

Lance de Paulistano x Corinthians (Paulistão/22)

Mas eis que, na penúltima rodada, já disputada no ano de 1923, teve o alviverde uma atuação desastrosa diante do Paulistano. Só para se ter uma ideia, basta dizer que em apenas sete minutos o placar do campo do Jardim América já apontava 3 a 0 para os donos da casa. Conrado ainda diminuiu, aos 18, mas Fried, aos 29, e Mário Andrade, no começo do segundo tempo, deram números finais à partida.

Se tal vexame já não fosse suficiente para abalar os alicerces esmeraldinos, quatro dias depois o Corinthians venceu, fora de casa, o Sírio, resultado que o colocou um ponto à frente na tabela e que também o deixou na dependência única e tão somente de seus próprios atletas para faturar o caneco.

Ao Palestra, restaria vencer seu último jogo e torcer por uma derrota corintiana na derradeira rodada. Nossa equipe fez a sua parte, goleando o Ypiranga por 4 a 1 e chegando aos 29 pontos, contra apenas 28 do alvinegro. Mas, como dissemos, tinham “eles” uma última partida, exatamente contra o… Paulistano. Isso mesmo, meus amigos: teria o time de Friedenreich a chance de retribuir o “favor” palestrino do certame anterior. Para tanto, bastaria ganhar o jogo e garantir ao Verdão mais um estadual.

Nos dias que antecederam esta partida não se falou em outra coisa nas cantinas, padarias e bares de São Paulo. Enquanto alguns apostavam que o Paulistano tudo faria para ganhar e assim ficar quite com o Palestra, outros garantiam que, para eles, há muito fora da briga pelo título, não importava se o campeão seria alvinegro ou alviverde.

Infelizmente para todos os palestrinos, os mais pessimistas estavam corretos. Mal o árbitro Bartholomeu Guganni apitou o início do jogo e o Corinthians já abriu o placar – Tatu marcou aos 2 minutos. O Paulistano pouco ou quase nada pressionou, parecendo conformado com a derrota que, como dissemos, para ele nada representaria. No segundo tempo, Gambarotta fez aos 17 minutos seu 19º gol na competição, tornando-se desta forma campeão e também artilheiro do Campeonato Paulista de 1922.

A nós, coube apenas a lamentação de mais um vice-campeonato obtido, aliás o quarto em sete torneios disputados – antes, já terminara na segunda colocação nos anos de 1917, 1919 e 1921. E também a certeza de que o Paulistano, além de um grande time, era também um grande mal-agradecido.

Obs.: Esta seção será atualizada em 17/09/2011.

Comments are closed.