CAP. 26: FRANCISCO MATARAZZO

Conheça a história do primeiro megaempresário do Brasil e a importância que teve para o nosso Palestra Itália.

Um grande clube se faz com grandes ideais, mas também com grandes homens, tanto dentro quanto fora de campo. Por isso, uma enorme injustiça se faria em “Nossa História” se nela não contivesse um capítulo exclusivamente dedicado a um italiano chamado Francesco Matarazzo.

Em 1882, numa das primeiras levas de “oriundis” a desembarcar no porto de Santos/SP, estava o jovem Francesco, então com 27 anos. Apesar da esperança de dias melhores, as coisas não começaram muito bem para ele: o pequeno bote que levou do navio ao porto os produtos que trouxera da Itália para iniciar sua vida comercial no Brasil afundou, deixando-o no mais completo prejuízo. Anos de economia foram para o fundo do mar, mas aquele bravo italiano não permitiu que sua força de vontade tivesse o mesmo destino.

Persistente, não se desanimou e seguiu para Sorocaba/SP, onde começou vendendo de porta em porta um produto bastante popular na época: banha de porco. Isso mesmo: no final do século XIX e começo do século XX, usava-se este ingrediente em vez de óleos vegetais na fritura dos alimentos. Matarazzo escolhia seus porcos pessoalmente em viagens pelo Interior e vendia a banha em barris de madeira que levava à freguesia de porta em porta.

Mas ele não foi apenas um pioneiro da industrialização. Na verdade, tornou-se um dos primeiros empresários a se voltar prioritariamente para o mercado interno, numa época em que a economia brasileira era dominada pela exportação de café. Ele descobria consumidores onde ninguém mais enxergava oportunidades de negócio, achava possível ganhar dinheiro produzindo mercadorias que a maioria dos brasileiros consumia aqui mesmo, no dia-a-dia. Arroz, vinho, queijo, quase tudo que aparecia na mesa dos brasileiros era importado na virada do século. Matarazzo foi dos primeiros a enriquecer produzindo esse tipo de coisa no Brasil.

Matarazzo levantou seu império aos poucos. Mudou-se para São Paulo/SP dez anos depois de chegar ao Brasil e só inaugurou a primeira fábrica, um moinho de trigo, uma década mais tarde, em 1900. O sucesso de sua trajetória é uma mistura de esperteza e oportunidade. Como importador, Matarazzo tinha uma visão privilegiada da paisagem econômica. Conhecia os preços das mercadorias e os interesses dos consumidores, tinha acesso a crédito e relações com uma rede de pequenos revendedores. Com tanta informação, conseguia saber a hora certa de reduzir as importações de um determinado produto e começar a produzi-lo aqui.

Além disso, Matarazzo tinha dinheiro para investir. Especulava com o câmbio e lucrava com o seu banco, que monopolizava a remessa das economias que os imigrantes italianos despachavam para a terra natal. Como outros pioneiros da industrialização brasileira, ele também teve uma bela ajuda do governo, cuja política de proteção alfandegária reduzia o custo de importação de algumas matérias-primas e impunha tarifas elevadas a produtos estrangeiros que poderiam competir com os nacionais.

Houve um momento em que os negócios do conde Francisco Matarazzo no Brasil tinham se diversificado tanto que até ele parecia confuso. “Sou comerciante de farinha, de bacalhau, de algodão… Não entendo de mais nada”, brincou certa vez. Não era à toa. Nas cinco décadas que levou para erguer seu império industrial, Matarazzo pôs o dedo numa variedade de empreendimentos e atividades impressionante até para os dias de hoje. Dizia-se em seu tempo que o conde tinha 365 fábricas, uma para cada dia do ano, e é bem possível que isso tenha sido verdade. No auge, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo – IRFM – produziam tecidos, latas, óleos comestíveis, açúcar, sabão, presunto, pregos, velas, louças, azulejos. Matarazzo tinha um banco, uma frota particular de navios, um terminal exclusivo no porto de Santos e duas locomotivas para transportar mercadorias no pátio da sede do complexo industrial, em São Paulo. Quando completou 80 anos, suas empresas faturavam 350 mil contos de réis por ano, dinheiro equivalente, na época, à arrecadação de São Paulo, desde então o Estado mais rico da Federação. Se a conta fosse feita hoje, nenhum dos conglomerados nacionais conseguiria bater Matarazzo. 

As grandes fortunas do início do século foram cevadas nas fazendas de café. Seus proprietários davam as cartas nos negócios, na política e no governo. Matarazzo não fez feio nesse ambiente. Um dos homens mais ricos de seu tempo, tinha mansão na Avenida Paulista e ia para o trabalho de limusine, mas sempre foi visto como uma espécie de novo-rico pela elite da época. O título de conde recebeu do imperador Vitório Emmanuele por ter enviado à Itália mantimentos durante a Primeira Guerra Mundial. Era um sujeito popular entre os italianos que viviam no Brasil. A maioria dos operários em suas fábricas era formada por italianos, e eram feitos na língua-pátria os discursos do patrão aos empregados. Fora da colônia, Matarazzo era visto com desconfiança pelos fazendeiros e pela nascente classe média urbana, e o comportamento da família só fez a antipatia crescer depois de sua morte, em 1937. 

Com o velho conde fora de cena, seu império começou a ruir. Quase nada restou do império construído por Francisco Matarazzo. Após sua morte, a condução dos negócios foi entregue ao 12º de seus treze filhos, Francisco Matarazzo Júnior. Mais conhecido como Conde Chiquinho, ele ficou famoso pela festa nababesca que promoveu para celebrar o casamento da filha, Filomena, em 1945. Seus problemas começaram na década de 50, com o avanço da industrialização e o aumento da concorrência ao redor dos negócios da família. Endividadas, as empresas foram vendidas uma a uma, em meio a várias brigas entre todos os herdeiros, culminando com a concordata no início dos anos 80. Maria Pia, a filha de Chiquinho, apagou a luz e pôs fim a uma história empresarial de sucesso estrondoso e epílogo lastimável. 

Para nós, porém, o que mais importa é o amor que Francisco Matarazzo sempre dedicou ao Palestra/Palmeiras. Tanto nas diversas vezes em que socorreu o clube devido a apuros financeiros como quando utilizou seu prestígio pessoal na defesa dos interesses alviverdes, ele sempre foi, acima de tudo, um grande palmeirense. 

Obs.: Esta seção será atualizada em 27/08/2011.

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