Como precisamos daquele que viria a ser o nosso maior rival para disputarmos a nossa primeira partida.
Numa época em que para se jogar futebol tinha-se, obrigatoriamente, de se ser amador, não havia a preocupação em se pagar a jogadores para defenderem a camisa palestrina naquele que seria o primeiro jogo da história do clube recém-fundado. Mas para que se confeccionassem as tais camisas, era necessário algum dinheiro. Além disso, havia custos normais, como despesas com transportes, por exemplo. Dá pra se ter uma idéia das dificuldades em se andar, ainda que apenas alguns quilômetros, na São Paulo do começo do século passado?
Tal questão, a financeira, passou a ser o primeiro dos grandes problemas para o Palestra poder entrar em campo. Caminhávamos para o final do ano de 1914, o mundo em ebulição e os festejos natalinos e de reveillon acabaram por adiar um pouco nossa estréia. Mas, assim que o ano novo chegou, trouxe consigo todos os bons fluidos, e alguns deles aportaram na sede palestrina em forma de apoio financeiro.
Empresários da colônia, como André Matarazzo, Rodolfo Crespi (o mesmo que fundaria, em 1924, o Clube Atlético Juventus e que hoje dá nome ao simpático Estádio da Rua Javari), Giulio Pignatari e Menotti Falchi (este um futuro presidente do clube, em 1919), uniram forças e saldos bancários para ajudar o Palestra Itália a entrar em campo. O curioso é que foram exatamente estes homens que trabalharam com afinco em prol do envio de recursos para a Pró-Pátria e à Cruz Vermelha italiana.
O passo seguinte seria a escolha do adversário. Assim que tomaram conhecimento de que o clube que, até então, praticava o futebol apenas socialmente, num campo alugado no bairro da Vila Clementino, os também ítalo-brasileiros do Savóia, uma equipe de Votorantim, hoje uma cidade do Interior paulista mas, naquela época, apenas um distrito pertencente a Sorocaba/SP, fizeram o convite.
De início, todos acharam ser uma ótima idéia, pois o amistoso não poderia ser mais amistoso, já que ambas as equipes pertenciam a mesma colônia. Por outro lado, surgia um problema adicional: como custear as despesas de uma, à época, longa viagem de cerca de 100 km?
O dinheiro dos empresários acima citados estava praticamente no fim, pois havia sido utilizado para saldar dívidas e confeccionar o primeiro jogo de uniformes. A solução encontrada pelo então diretor financeiro, Tomazzo Mauri, foi vender por mil réis cada um dos 150 distintivos que o clube recebera gratuitamente de um aficcionado torcedor, cujo nome a história, infelizmente, se esqueceu de eternizar.
Com a venda dos símbolos aos sócios, obteve-se exatamente a metade do valor necessário para a compra das passagens de trem até a cidade do interior paulista. A outra metade foi adiantada, imagina-se com que apreensão, pelo caixa do próprio clube.
Faltava, então, o detalhe final e, sem dúvida, o mais importante: os jogadores. Um diretor conhecia um atleta, outro sócio conhecia mais dois, e assim o time foi se formando, mas sem que se obtivesse o número mínimo necessário.
Foi aí que algo muito curioso aconteceu: ao Corinthians, então um clube com quatro anos de vida e que já fora até Campeão Paulista, foi solicitado o empréstimo de alguns atletas. Como nem em sonho imaginava-se a intensa rivalidade que surgiria entre ambos os clubes, o pedido foi aceito. Assim, entraram para a história palestrina os seguintes então corintianos: Fúlvio, Police, Bianco, Américo e Amílcar.
Tudo pronto, restava apenas a viagem, o jogo e, torcia-se, a vitória. Todos estes temas serão assunto do nosso próximo encontro em “Nossa História”.
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Obs.: Esta seção será atualizada em 16.04.2011