Dois dias antes de adquirir o Parque Antártica, o Palestra Itália estreou no Campeonato Paulista de 1920.
O resultado não poderia ter sido mais positivo e, ao mesmo tempo, mais indicativo do que estava por vir: jogando no Campo da Ponte Grande (portanto, fora de casa), goleamos o Corinthians/SP por 3 a 0, com dois gols de Heitor e outro de Ministro.
De fato, a diretoria havia se empenhado muito na aquisição do campo de jogo, mas não menos na manutenção da equipe que no ano anterior havia se sagrado vice-campeã. Assim, a única mudança que aconteceu entre os titulares se deu no gol, ao qual Primo foi designado em lugar de Flosi.
Nosso principal concorrente, claro, era o todo-poderoso Paulistano. De longe o melhor time do País devido, principalmente, a Arthur Friedenreich, o melhor jogador de futebol do planeta até o surgimento de Pelé, o time do Jardim América lutava pelo pentacampeonato paulista. Contudo, pelo menos no primeiro turno daquela competição seu desempenho deixou a desejar. Ao final das nove primeiras rodadas, estava a aparentemente inalcançáveis seis pontos de distância em relação ao líder, ou seja, o Palestra – 11 contra 17, para ser mais claro.
Talvez por comodismo, talvez por excesso de confiança, nossa equipe caiu bastante de produção no segundo turno e, dos oito jogos seguintes (o clássico com o Santos foi cancelado porque a equipe do Litoral paulista desistiu de disputar o restante do torneio), empatou um e perdeu dois.
Uma destas derrotas doeu demais. Na última rodada daquele Paulistão, em 12/12, o Palestra Itália só dependia de um empate diante do Paulistano para garantir o título, já que somava 28 contra 26 pontos do rival. Se já não bastasse tal vantagem, o jogo ainda por cima seria realizado no Parque Antártica, ou seja, diante de um público que, em sua esmagadora maioria, seria palestrino. Nosso time suportou a pressão dos primeiros minutos tanto no primeiro quanto no segundo tempo mas, aos 22 da etapa final, o Paulistano conseguiu furar nosso bloqueio. Ganha um doce quem apostou que o autor da façanha foi Friedenreich.
Assim que Walter Raul Hampshire apitou o fim daquele clássico, Palestra e Paulistano estavam empatados na primeira colocação com 28 pontos. Mandava o regulamento que, neste caso, um jogo-extra fosse disputado, e ele foi marcado para o domingo seguinte, 19/12, no neutro Campo do Floresta.
Na finalísisma, o que se viu foram duas equipes aguerridas e voluntariosas, lutando de maneira impressionante pela posse da bola. Talvez por isso se explique o justo empate sem gols, que perdurou até o fim do primeiro tempo.
Na etapa final, porém, o jogo começou quente. Logo aos 5 minutos, o ponta-esquerda Martinelli colocou o Palestra Itália em vantagem. Mas nossa alegria não duraria muito: aos 14 minutos, Mário se aproveitou de um cochilo da defesa palestrina e empatou a partida. O alviverde não se deixou abater. Mesmo num jogo equilibrado, conseguiu se impor e, aos 29, outro ponta, o direito Forte, mais uma vez deixou o Palestra Itália em vantagem.
Daí em diante, meus amigos, conta a história que todo o time palestrino se fixou no campo de defesa. Até o goleador Heitor abriu mão do que melhor sabia fazer – gols, claro – para dar uma força na marcação. Foi uma pressão incrível do Paulistano, que durou exatos 16 minutos, quando se expirou o tempo regulamentar e o árbitro deu o jogo por encerrado.
Explosão de alegria, que se materializou em verde, branco e vermelho. O verde, cor da esperança daqueles italianos que, por mais difíceis que foram as situações, jamais haviam deixado morrer o sonho de ter um time de futebol. O branco, cor da pele daqueles imigrantes, que tiraram do próprio bolso os recursos para manter vivo o clube que tanto amavam. O vermelho, do sangue que corre nas veias de um povo tão apaixonado por tudo o que faz. Enfim, o Palestra Itália era campeão paulista.
Naquela São Paulo/SP às vésperas do Natal de 1920, faltou vinho tinto para tanta festa.
CAMPEONATO PAULISTA/1920
CAMPO DO FLORESTA, EM SÃO PAULO/SP
MARTINELLI AOS 5, MÁRIO AOS 14 E FORTE AOS 29 MINUTOS DO SEGUNDO TEMPO
PRIMO
-
OSCAR
BIANCO
-
BERTOLINI
PICAGLI
SEVERINO CESTARI
-
FORTE
MINISTRO
HEITOR
FEDERICI
MARTINELLI
ARNALDO
-
GUARANY
CARLITO
-
SÉRGIO
ZITO
MARIANO
-
AGNELO
MÁRIO
FRIEDENREICH
CASSIANO
CARNEIRO LEÃO
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Obs.: Esta seção será atualizada em 15/04/2011.