CAP. 6: A FORÇA DO DESTINO

O Palestra Itália não contava nem um mês de vida, e já se via órfão de um de seus pais.

Contudo, é bom deixar claro que Ezequiel Simone não abandonou o clube como um todo, apenas não aceitou mais a espinhosa função de ser seu presidente. Permanecendo no quadro associativo, foi um dos eleitores do seu próprio sucessor.

Antes, porém, que contemos quem foi ele, vale lembrar uma decisão tomada por Vincenzo Ragognetti, Luigi Emanuelle Marzo e Luigi Cervo. Um deles, desta vez, naturalmente seria o escolhido para ocupar a cadeira da presidência, já que a idéia da fundação da entidade partira dos três. Porém, de forma surpreendente, no pleito que elegeu o segundo mandatário palestrino, eles se autoproclamaram inelegíveis.

A decisão tomou a todos os presentes de surpresa e, ao mesmo tempo, suscitou uma grande dúvida: primeiro o maior responsável pela consolidação do clube em termos legais não resiste nem a três semanas no cargo; em seguida, nenhum dos três outros fundadores aceita concorrer à nova eleição. Será que eles sabiam de algo que os demais associados não tinham conhecimento? Seria a situação do clube tão terrível que nem mesmo aqueles que o trouxeram ao mundo aceitavam criá-lo, como todo pai deve fazer com seu filho?

Nada disso. Na verdade, não disputar o cargo de presidente do Palestra Itália foi uma decisão tomada com muita inteligência por Ragognetti, Marzo e Cervo. Afinal, o principal problema de Simone em seus poucos dias de mandato havia sido conter os ânimos e provar a quase todos que não era um ditador. Ora, se seu sucessor fosse alguém da alta cúpula, é evidente que os mesmos protestos se seguiriam. Por isso, ao se declararem inelegíveis, os três jogaram toda a responsabilidade para algum personagem de menor importância. E é claro que nenhum deles falou isso aos demais.

Augusto Vaccaro foi o segundo presidente do Palestra Itália

A votação foi secreta. Cada um dos presentes escreveu numa folha de papel o nome de um companheiro que, em sua opinião, seria o ideal para assumir o clube em sua primeira grande crise. Com exceção de Simone e dos outros três, todos poderiam ser votados. Após alguns minutos de escrutínio, Luigi Cervo deu início à apuração. A história não diz quantos votos teve o vencedor, mas o escolhido foi Augusto Vaccaro.

Também membro da diretoria, ele tinha grande influência entre todos os associados, e por isso sua eleição foi aclamada. Sobre ele, é certo, jamais recairiam as mesmas e infundadas acusações de despotismo, como já dissemos as maiores responsáveis pela queda de Ezequiel Simone. Depois de um breve discurso, Vaccaro deu início à sua gestão, passando a deliberar com os demais membros da diretoria.

Muito havia a ser feito. O principal problema era a decisão sobre onde seria a sede do clube. Seria necessário alugar alguma sala comercial, de preferência no Centro da Cidade, a fim de facilitar o transporte de todos. Parece incrível, mas os bairros que na época serviam de moradia para a maior parte dos italianos – Brás, Bom Retiro e Bixiga -, hoje praticamente inseridos na Zona Central de São Paulo, eram então considerados um tanto quanto distantes e, por serem desprovidos de melhores condições de infra-estrutura, também de difícil acesso, principalmente no verão, desde então já bastante chuvoso na Capital paulista.

Mas o novo presidente não teve muito tempo para decidir sobre a primeira sede palestrina. Nem ele e nem ninguém poderia esperar que o destino se encarregaria de invadir a vida do Palestra Itália, tornando praticamente impossível a sua sobrevivência. Na próxima vez em que nos encontrarmos, todos saberão como isso se deu.

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Obs.: Esta seção será atualizada em 19/03/2011

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